Quando quem "governa" são as facções criminosas

A selvageria praticada nos presídios de Manaus, Boa Vista e agora no Rio Grande do Norte expõe, sem retoques, o que, pelo menos no caso de Manaus, é de amplo conhecimento: quem controla os presídios são as facções criminosas e não o governo do estado, como demonstraram relatórios de CPI, auditorias e investigações policiais.

Até o momento o número oficial de chacinados nos 3 estados é de 126 detentos. Desse total, 67 foram mortos em Manaus – muito dos quais decapitados e esquartejados – que também deu fuga a outros 200 detentos. O fato revela mais do que a conhecida incompetência do governo, sua relação promíscua com essas facções e os contratos superfaturados. Revela, também, o fracasso da privatização do sistema.

Todos sabem que, além desses fatos, o combustível que alimenta permanentemente essas rebeliões e fugas, são as condições degradantes dos presídios, onde a superlotação e a ausência de qualquer programa de ressocialização são apenas a parte mais visível dessa degradação.

E se todos sabem e ninguém faz nada é porque, lamentavelmente, há conivência de uma parcela da sociedade com essa prática ilegal e imoral.

Para esses, desde que a selvageria não venha a público, esses "acidentes pavorosos" (Michel Temer, 2017) deveriam "acontecer toda semana" (assessor de Temer) porque "nos presídios não tem nenhum santo" (José Melo, governador do Amazonas).

Diante desse quadro dantesco, o mínimo que se esperava do governador era humildade e bom senso, tanto para admitir os erros e falhas de seu governo como para tomar medidas práticas no sentido de resolvê-las.

Mas ocorre exatamente o contrário. Acuado, desgastado, sem prestígio e sem qualquer comando real do estado, ele se torna cada vez mais agressivo. Sua estudada humildade se transforma numa arrogância desmedida.

Em nota oficial, paga com dinheiro público, ataca aos que, corretamente, cobram providências e correção de rumo contra a selvageria que se estabeleceu no estado. Sobra insultos e agressões até mesmo para a OAB, pelo simples fato de cobrar providências contra a selvageria estabelecida.

Sua tática, todavia, além de manjada é ineficiente. Para qualquer pessoa com um mínimo de discernimento fica evidente que seu objetivo é tumultuar o processo, confundir a população e tentar desviar o foco das críticas e cobranças contra o que restou de seu governo.

Salvo os "pena de aluguel" ninguém lhe dá ouvidos. Afinal ninguém pode levar a sério quem tenta misturar doação legal de campanha com promiscuidade de campanha. A imoralidade não está na doação de campanha, mas no fato dele ser o contratante da empresa e por um preço comprovadamente superfaturado.

E há duas perguntas incômodas que o governador Melo não consegue responder e talvez por isso a comportada imprensa local não lhe ouse perguntar:

Por que a polícia, cujo comandante em chefe é ele próprio, assistiu passivamente a chacina ocorrer sem esboçar qualquer iniciativa para impedir tal selvageria?

E, como ele explica, a gravação entre o então subsecretário de Justiça do estado e o chefe da FDN (Rede Globo, Fantástico, 15.01.2017), no qual este assegura 100 mil votos à sua reeleição?

Nas notas oficiais ele continua negando as evidências. Tenta passar a cômoda (e covarde) versão de que o subsecretário estava falando em nome do próprio secretário de justiça, que apelava para que não houvesse rebeliões.

Até onde o bom senso e a lógica ensina não se contém rebelião com 100 mil votos!

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