A banalização da vida diante da cultura do abandono e da morte

O ano de 2017 expondo as vísceras da cultura do abandono e da morte. E não sensibiliza! Os crimes misóginos que estão chamando de “chacina do revéillon” em Campinas (SP) são feminicídios, pois o motivo basilar do assassino Sidnei Ramis de Araújo, 46, técnico do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, foi o ódio à ex-mulher Isamara Filier, 41 anos, técnica em contabilidade, que registrou seis BOs contra ele.

O Estado “alisou a cabeça” dele! O assassino foi acusado pela mãe de violência sexual contra o filho, o que a polícia não comprovou. Resultado? Foram mortas 12 pessoas pelo ex-marido de Isamara Filier, inclusive o filho dele, de 8 anos. Foram assassinadas nove mulheres e três homens, incluindo a criança! Total de 13 mortes, pois o assassino se suicidou em seguida. Todavia, deixou uma carta na qual revelava quem era: “Tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!”

Em Manaus, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, nos dias 1º e 2 passados, ocorreram 56 mortes e 112 fugas; e quatro mortes na Unidade Prisional do Puraquequara. Na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, na madrugada de 6 de janeiro, cerca de 33 presos foram mortos, a maioria decapitada! O governo brasileiro considera “acidentes” as duas chacinas.

Declarações de vários integrantes do governo federal chocam pelo “caralimpismo”, mas a mais grave é a desfaçatez de Bruno Moreira Santos, vulgo Bruno Júlio, presidente nacional da Juventude do PMDB, até então secretário da Juventude de Temer: “Eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de polícia, né? Tinha era que matar mais. Tinha que fazer uma chacina por semana”. Segundo várias publicações, ele responde a inquéritos sobre lesão corporal contra a ex-mulher e assédio sexual a uma ex-funcionária. Como, com tal “folha corrida”, chegou ao cargo?

Bruno Júlio é filho do Cabo Júlio, de Minas Gerais – líder da greve da PMMG em 1997 (governo Eduardo Azeredo); deputado federal eleito em 1998, reeleito em 2002, acusado de integrar o escândalo dos sanguessugas; vereador em Belo Horizonte de 2009 a 2012. Atualmente, é deputado estadual. Bruno Júlio pediu demissão em 7.1.2016.

A secretária de Direitos Humanos Flávia Piovesan, que por anos foi musa dos direitos humanos no Brasil, mas jogou sua história de vida nas calendas gregas para compor o governo Temer, disse que “o Estado tem o dever de assegurar a integridade física, psíquica e moral dos presos, que só têm cerceada a liberdade, mas permanecem com o direito de terem suas vidas resguardadas. O que ocorreu em Manaus foi um desperdício evitável de vidas humanas… Houve omissão, além de uma política pública desacertada, insuficiente e ineficaz para prevenir”. O chefe dela, o ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, pensa diferente. Porém, presos estão sob guarda do Estado.

Aconteceu em Piracicaba (SP), no dia 5 passado: “Mãe de bebê achado em mala tem 11 anos e era estuprada pelo pai, diz polícia”; o pai da menina, de 36 anos, “é suspeito de ter engravidado a filha menor de idade”; e a mãe dela disse que fez o parto e seu marido “descartou o bebê em frente a uma chácara do bairro Itaperu por volta das 20h”. Não consigo imaginar uma menina de 11 anos grávida do pai, a mãe fazendo o parto, e o pai descartando o bebê, como se fosse um animal! Mas aconteceu. É animalidade ilimitada.

A naturalização da banalização de vidas concretas deu a tônica à chegada de 2017 no Brasil, lamentavelmente. Viramos um país de desvalidos.

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