Grande política: este sim um debate necessário

Já há algum tempo me sinto tentado a escrever algumas linhas sobre um grave erro (a meu ver) que parte da esquerda e muitos militantes dos movimentos sociais têm cometido sem perceber suas possíveis consequências futuras: o rebaixamento do debate sobre a grande política.

Bom, antes de qualquer coisa seria correto se perguntar o que vem a ser isso? De maneira simplista, seria o que realmente importa. Para darmos um exemplo fácil, podemos pensar no governo ilegítimo de Temer. O que de fato é importante e precisa ser debatido, são suas reformas neoliberais, o ataque contra os direitos trabalhistas, a repressão aos movimentos populares, a costura com o PSDB e a grande mídia para a sustentação de um governo plutocrático. Todas estas são pautas importantes a serem observadas, discutidas e pensadas.

A micro ou pequena política, entretanto, seria o que poderíamos chamar de fofoca, ou “mimimi” ou ainda “tititi”. São situações que entram no campo da ética, da estética, dos valores individuais e que, no fundo, pouco importa para o debate realmente necessário. Para se pegar um exemplo, pensemos novamente no governo Temer. Posturas que não fazem diferença neste momento de recuo e resistência das forças progressistas pode ser: onde Temer comprou seu terno, se ele usa mesóclise para falar, onde estuda seu filho, o tamanho de sua casa e, recentemente, o tal episódio dos sorvetes de chocolate de uma marca famosa.

Entrar nesta pilha que a imprensa fofoqueira traz somente rebaixa o discurso de quem quer de fato combater este governo ilegítimo em sua raiz. É de extrema ingenuidade dar corda para estas notícias, pior ainda propagá-las como papagaio de pirata, pois, por mais sincera que seja a vontade de denunciar as mazelas do ex vice-presidente isto em nada ajuda, para ser sincero, ao meu ver atrapalha.

O motivo que coloco isto com tão duras palavras é simples: perde-se o foco da luta, da resistência, notícias feito esta do chocolate se propagam com tamanha rapidez que abafam o debate, por exemplo, sobre a Reforma da Previdência que dentro em breve estará sendo votada! Isto é muito perigoso, pois sem querer, pode-se estar fazendo o serviço sujo da direita sem perceber!

Neste momento tudo que tire de foco a grande política é um erro, pois é esta a ferramenta, inclusive, da própria imprensa golpista, ou seja, noticiar coisas menos importantes para que as notícias que realmente importam sejam veladas. Este caso do sorvete de chocolate mesmo serviu para que a licitação deste item e outros fossem cancelados e noticiados como exemplo de dignidade por parte do ilegítimo em rever a compra. Ou seja: a quem de fato serviu toda esta conversa fiada? Para ganhar curtidas nas redes sociais e buscar tentar melhorar a imagem desgastada de Temer junto a população via imprensa burguesa?

Talvez este seja o exemplo mais recente, mas muitas pessoas estão caindo neste erro do rebaixamento da política com frequência. Enxergo para isto, três causas:

A primeira é pura ingenuidade mesmo, compartilhamento de manchetes por estar revoltado com os rumos do país sem pensar nas consequências. Isso acontece e é preciso ir ao cerne do problema com estes indivíduos, ou seja: disputar estas opiniões mostrando-as sobre como é importante mantermos o foco na grande política sem cair nas ciladas midiáticas, o inimigo é poderoso e sabe usar muito bem suas ferramentas de alienação, saber jogar o jogo é nossa melhor alternativa!

A segunda entra na imaturidade política, militantes que vivem em seus DAs, DCEs, grêmios e sindicatos e muitas vezes esqueceram que existe um mundo lá fora além das paredes das escolas, universidades e sedes sindicais, estes também precisam ser convencidos que estão favorecendo as elites sem perceber, mesmo com a melhor das intenções. Não é simples, mas é importante dialogar com estes sujeitos, pois eles são peças importantes na luta contra o governo golpista.

A terceira causa, entretanto, me parece complexa de se resolver, pois entra no campo das ideias, chama-se pós-modernismo. Esta corrente de pensamento tem ganhado cada vez mais espaço e fãs na esquerda responsável sem notar que ela traz consigo um erro grave e perigoso: a negação da luta de classes.

As pautas locais, específicas, de raça, de cor, de gênero, de sexualidade, ambiental, são muito importantes de serem lembradas, fundamentais inclusive, mas nenhuma delas pode estar à frente da luta de classes, pois a solução de nenhuma destas pautas é possível de se pensar em resolver dentro do modo de produção capitalista! Algumas, inclusive, por serem culturais vão além da mudança de sistema, pois são anteriores a luta contra capitalismo em nosso planeta. Entretanto, pensar que neste sistema opressor teremos como resolver estas demandas é de extrema ingenuidade. A pauta ambiental, por exemplo, (grosso modo), só pode ser resolvida de fato quando não for mais lucrativo para os grandes empresários destruirem nossas reservas florestais, portanto, somente onde não exista o lucro ao se desmatar de maneira desnecessária e irresponsável.

Nossa pauta e nossa luta precisam ser contra o capital, pois todas as demais, mesmo sendo bandeiras de luta muito admiráveis, não buscam a troca do sistema de exploração do homem pelo homem. Não é um desmerecimento a estes temas, mas é preciso que se enxergue que somente cada luta separada e sem pautar o debate de classes pouco contribui para acabar com todas as mazelas que vivemos. Pior, pode fortalecer o inimigo maior (o capital financeiro internacional) sem percebermos!

Não temos mais tempo de errar ou de ficar correndo atrás do próprio rabo, é preciso foco, muito foco na luta que queremos e acreditamos, sem se perder no caminho. Não podemos persistir no erro de muitos em rebaixar o debate político e negar a luta de classes, só vamos vencer se tivermos unidade de ação, flexibilidade tática e muita firmeza ideológica para não cairmos nas ciladas do grande capital. Como disse antes, nosso inimigo é poderoso, forte e unido, se não tivermos disciplina e atenção podemos fortalecer ainda mais os que querem um mundo injusto e desigual.
Pense nisso! Até a próxima!
 

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