“13 Minutos”, por um triz

Cineasta Oliver Hirschbiegel tira do anonimato ato solitário do operário alemão Georg Elser e expõe o uso da propaganda para controlar o povo.

Não à toa, o cineasta alemão Oliver (1957) constrói o operário alemão Johann Georg Elser (1903/1945), neste “13 Minutos”, como personagem em constante mutação, devido às suas mudanças de profissão, de cidades e de manifestações contra o regime hitlerista. Sua inquietação o tornaram figura central na resistência do povo alemão ao domínio do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), de 1933 a 1945.

De origem camponesa, nascido em Hermaringen, estado de Württemberg, Elser foi carpinteiro, marceneiro, músico, metalúrgico, em pequenas cidades, onde a propaganda nazista manipulava a população. Não só através de programas de rádio, mas também de manifestações, convites para assistir filmes e palestras de seus líderes. Esta máquina de lavagem cerebral, montada pelo ministro da Propaganda, Joseph Goebbels (1897/1945), levada às ruas e aos lares pela SS e a Juventude Nazista, fez Elser se recusar a fazer a saudação nazista e a participar de seus eventos.

Ao matizá-lo assim, Hirschbiegel foge aos espectros das obras da cineasta alemã Leni Riefenstahl (1902/2003). Em “O Triunfo da Vontade” (1935) e “Olímpia” (1938) suas coreografias criadas para reafirmar símbolos nazistas transformam cidadãos comuns em massa. Assim, vastos segmentos são magnetizados por Hitler. Como na sequência em que Elser assiste de longe sua família participar da festa organizada pelo NSDAP.

Elser se recusa a ser massificado

Mas não só Hirschbiegel mostra-se atento à simbologia nazista. Outro cineasta alemão, Volker Schlöndorff (1939), trata da influência da propaganda hitlerista na formação do garoto Oskar Metzerath (David Bennent), em “O Tambor” (1979), a partir do livro homônimo de seu compatriota Günter Grass (1927/2015). Enquanto cresce, ele vai apagando os traços de sua personalidade, como se fosse a (in)consciência dos vastos segmentos que apoiaram o nazismo, através de massiva propaganda.

Além dessa inquietante abordagem, Hirschbiegel trata dos confrontos de rua dos militantes do KPD (Partido Comunista da Alemanha) com os nazistas. Ativo militante, Elser delas participava, ao lado do dirigente comunista local, Joseph Schurr (David Zimmerschied), mas, a partir dos incidentes da “Noite dos Cristais”, em 09/11/1938, ele decide desafiar o próprio Hitler. Dada à morte de 91 judeus, três mil levados ao campo de concentração, 7.500 lojas judaicas lacradas e 267 sinagogas destruídas.

Esta motivação, não citada por Hirschbiegel, desperta-o para o monstruoso perigo representado pelo hitlerismo. Incógnito, ele visita o teatro onde Adolf Hitler (1897/1945) comemoraria, em 08/11/1939, o primeiro aniversário da “Noite dos Cristais”, em Munique, para conhecer o espaço. E, sobretudo, para instalar dinamite sob o púlpito de onde ele discursaria para centenas de lideranças nazistas locais.

Elser mantém seu plano em segredo

Complexo personagem, Elser é delineado por Hirschbiegel e seus roteiristas Léonie-Claire Breinersdonfer e Fred Breinersdonfer nesta biografia ficcionalizada como desamparado, frequentador de bares, tocador de contrabaixo e morador de quartos em Königsbronn. E, além disso, matinha conflituosa relação amorosa com Elsa (Katharina Schütter), casada com ciumento nazista, com o qual se atritou. Nada, contudo, a indicar sua capacidade de executar o que intentava com frieza.

Levar adiante seu plano, motivado pelo temor de Hitler destruir o país, exigia absoluto segredo, não ter parceiro, confidente ou consultor. Em seus testes no meio do mato, onde detona explosivos, distante da cidade, e ao instalar várias dinamites sob o púlpito em que Hitler discursaria, inexistiam testemunhas. Contava apenas com seu aprendizado de relojoeiro, seus cálculos e sua confiança para atingir seu intento.

Toda estruturação narrativa deste “13 Minutos” em flashback não decorre de uma trama central desenvolvida linearmente. Hirschbiegel e seu roteiristas optaram por dividi-la em duas alternadas na montagem: 1 – Vida real de Elser como operário, militante comunista e amante de Elsa; 2 – Prisão, tortura e relação de Elser com o chefe de polícia de Munique Nebe (Burghaart Klaubner), que acreditava ser ele o único envolvido no atentado contra Hitler, não resultado de um complô.

Tortura mostra terror nazista

São opções sensatas, pois Hitler saiu 13 minutos antes para viajar a Berlim, onde participaria das comemorações da noite das “Noite dos Cristais”. E centrar a ação no já conhecido atentado e na morte de oito nazistas e de 30 feridos só renderia um anticlímax. Contudo, são puro horror as sequências em que Elser é torturado noite adentro e Nebe enforcado como seu cúmplice. Mais ainda quando Elser é executado com um tiro na cabeça, no campo de concentração de Dachau, em 09/04/1945, deixando a emblemática frase: “Eu quis pela minha ação prevenir uma mantença maior”.



“13 Minutos”
. (Elser: Er hätte die Welt veränderf). Drama político. Alemanha. 2015. 114 minutos. Música: David Holms, Montagem: Alexander Dittner. Fotografia: Judith Kaufmann. Roteiro: Léonie-Claire Breinersdonfer/Fred Breinersdonfer. Diretor: Oliver Hirschbiegel. Elenco: Christian Friedel, Burghart Kalubner, Katharina Schuttler, Felix Eitner.

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