Golpe fatiado

O golpe segue — cumprindo cada etapa quase que com precisão cirúrgica.

Primeiro, tratava-se de afastar a presidenta Dilma definitivamente e interromper as transformações que se operavam no país desde 2003, quando se iniciou o primeiro governo Lula.

Uma vez ocupado o governo central por Michel Temer e sua corja, iniciou-se a segunda fase: o ajuste fiscal rigoroso, recessivo e prejudicial à grande maioria da população; e acelerar o desmonte das políticas públicas, conquistas sociais e direitos, ao modelo neoliberal praticado na Zona do Euro, sob o comando do grande capital financeiro internacional.

É o que está em andamento, porém de modo atabalhoado, proporcional à incompetência e ao desmantelo de Temer e seu grupo. Soma-se a desqualificação do grupo palaciano, tipicamente mergulhado no que há de pior na política.

Em seis meses, um número recorde de ministros caiu – seis – por questões éticas.

Agora, em meio ao aguçamento de verdadeira crise institucional, desenha-se uma nova fase, que consiste em empurrar Temer ao fundo do poço e a partir do início do ano que vem, quem sabe, afastá-lo também do poder, gerando as condições para uma eleição indireta via Congresso Nacional — vale dizer, escolher um tucano presidente da República com a tarefa de fazer todo o trabalho necessário para que em 2018 possa se eleger novamente um tucano.

Certamente está aí a explicação da abordagem da Rede Globo e outros gigantes da grande mídia nitidamente desfavorável a Temer e as insinuações de Fernando Henrique Cardoso, que parece se apresentar para um hipotético mandato tampão de dois anos.

Desenhado o esquema, nada indica que as coisas acontecerão pacificamente. Contradições e conflitos de interesses marcarão o processo nas hostes governistas. Nem o PMDB entregará de graça o poder conquistado por via transversa, nem o baixo clero da Câmara e do Senado venderá por pouco seus votos numa eleição indireta.

Às oposições cabe intensificar a resistência e cuidar de uma ampla articulação de caráter frentista em torno de uma agenda de luta contra o retrocesso e em favor do desenvolvimento com inclusão social, assentada no binômio produção-trabalho. E defender eleições diretas para presidente, no desdobramento de uma possível queda de Temer, como alternativa democrática de enfrentamento da crise.

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