Quem são (ou foram) os vândalos em Brasília?

“Todo jornal que eu leio
Me diz que a gente já era
Que já não é mais primavera
Oh baby, oh ba…by
A gente ainda nem começou”
Raul Seixas (Cachorro Urubu).

Antes de tudo, há de se parabenizar e louvar o esforço de milhares de patriotas que se dirigiram à Brasília, oriundos das mais diversas localidades, para protestar democraticamente contra o maior entulho autoritário que se tem notícia desde a promulgação da Constituição de 1988: a PEC 55.
Contra a petrificação dos investimentos nos próximos vinte anos, uma enxurrada de gente, principalmente estudantes, se deslocou como uma maré a se chocar com um paredão armado.

Mais uma vez, a mesma polícia (não confundir com policiais) que num passado recente autorizava seu efetivo a até tirar selfies com os manifestantes e dar proteção a um boneco inflável altamente ofensivo contra a presidenta Dilma, mostrou seu caráter seletivo ao avançar contra os movimentos sociais.

A grande mídia empresarial, como já era de se esperar, generaliza que o que se viu na manifestação de ontem (30) foi quebradeira e vandalismo.

Diferentemente do governo Temer, que pode escolher a dedo todos os seus ministros, e mesmo assim selecionou gente como Geddel Vieira Lima, Romero Jucá, Henrique Alves, Eliseu Padilha, entre outros, em uma manifestação popular organizada pelos movimentos sociais não se pode escolher quem participa. Ou seja, se até no Governo Temer o seu ex-ministro Marcelo Calero atuou como um infiltrado do PSDB, imagina em um evento aberto ao público em geral.

Por mais que a organização tente identificar os provocadores e peça para os milhares de participantes não aceitarem a provocação, militantes de direita claramente infiltrados e outros grupos sectários agem por conta própria na direção contrária dada pelo comando da manifestação.

Em um episódio recente vimos até um agente das Forças Armadas disfarçado em meio aos manifestantes, a fim de levantar a ficha de cada um. Quer dizer, o serviço de inteligência funciona para enquadrar militantes, mas não para identificar os verdadeiros vândalos (caso quisessem).

Se o interesse fosse realmente coibir a violência, as polícias poderiam muito facilmente isolar e prender os indivíduos que atacaram o carro da emissora Record, por exemplo. Se pode ver, nos vários vídeos, que estas bestas-feras foram totalmente rechaçadas pelos legítimos manifestantes que não apoiaram e não apoiam esse tipo de ação.

Mas a força policial preferiu agir com o uso da força desproporcional contra todos os manifestantes, empurrando-os como gado até próximo a rodoviária, como se enxotasse a todos de volta para suas casas.

Quem não se lembra dos manifestantes anti-Dilma banhando-se no espelho d’água do Congresso ou tomando sol em frente ao Palácio do Planalto? Em São Paulo chegaram a interditar a avenida mais simbólica da cidade por vários dias. Tudo na mais santa paz. Tudo em nome da democracia.
Esse é o caráter discriminatório do Golpe. Esse é o caráter seletivo do braço midiático do Golpe.

Ou seja, nas manifestações da Fiesp, quando se motivava arrancar do poder uma presidenta democraticamente eleita pelo voto popular, tudo era permitido e grupos que defendiam o retorno da ditadura militar, morte aos gays e outras bizarrices mais, eram apenas considerados como uma minoria ou gente infiltrada.

Hoje, quando jovens de todo o país marcham para defender verdadeiramente hospitais e escolas padrões FIFA, são massacrados física e espiritualmente tanto pela polícia como pelos grandes meios de comunicação. E essa luta é em defesa dos próprios policiais que verão seus salários achatarem nos próximos vinte anos e seus filhos disputarem em piores condições uma vaga na universidade pública (se elas forem gratuitas até lá).

Resta o consolo de que quem esteve em Brasília e viu a barbárie que a direita é capaz de patrocinar em defesa de seus privilégios, saiu de lá com sua convicção política e disposição de luta aumentada. E é disso que precisamos para uma batalha prolongada que se avizinha de resistência ao que podemos considerar como o ápice do vandalismo institucional que é a PEC 55.

A luta está apenas começando.

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