Governo ressonante

O ressonar de moedas se faz ouvir ao longe na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Pra todo lado que se vire, há novos casos de assalto aos cofres públicos ou de assaltantes já renomados no ramo sendo postados em cargos importantes da República, sem dó nem piedade, como se tudo fosse a coisa mais normal do mundo.

Um exemplo chocante é esse cujo pivô central é o ministro Geddel Viera Lima, que ocupa cargo chave no governo de exceção. O enredo é simples. Um ministro pressiona outro pra que libere a construção de um prédio em área de proteção ambiental e patrimonial da cidade de Salvador, na Bahia, onde ele terá um apartamento de luxo.

O que foi pressionado, diplomata Marcelo Calero, ministro da Cultura, denunciou o fato, pediu demissão e foi cuidar da sua vida. Geddel, que pressionou e foi denunciado, também disse que iria sair, mas o seu chefe Michel Temer pediu que ficasse, por não ver tanta gravidade no acontecido. Deu, uma vez mais, sinal verde à farra generalizada.

De quebra, em lugar de Calero entra o suplente de deputado federal Roberto Freire (PPS/SP), que recentemente pediu a extinção deste mesmo ministério que ele agora vai comandar.

Quem conhece o eclético Freire, desde a época da ditadura, sabe muito bem que agora não haverá patrimônio histórico ou cultural que se salve. Basta tilintar alguma prata na frente.

Caso da Bahia

A história do prédio que está invadindo área de interesse público e quebrando o plano diretor de Salvador é um exemplo clássico de abuso de poder. O patrimônio privado de um ministro crescendo na base da quebra de regras que protegem o interesse da coletividade.

O Edifício La Vue tem 39 andares, com um apartamento de quase 300 m² por andar, um dos quais foi adquirido por Geddel ainda na planta. Fica na Ladeira da Barra, área tombada pelo Patrimônio Histórico, de frente pra Bahia de Todos os Santos e próxima do Mercado Modelo, Elevador Lacerda, Pelourinho, a Salvador dos cartões postais, enfim.

A obra foi embargada semana passada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Como o órgão é subordinado ao Ministério da Cultura, Geddel se achou no direito de pressionar o ministro da pasta pra que desfizesse a medida, pois, segundo ele, “gera muitos empregos”.

Embora fazendo parte de um governo golpista, Marcelo Calero achou que esse tipo de jeitinho é corrupção das mais graves, pois agride a o patrimônio cultural do País. Era demais pro seu estômago, por isso pediu demissão e denunciou o fato à sociedade.

Mas, o acusado fica no cargo, mesmo tendo admitido publicamente ter feito “ponderações” junto ao seu colega sobre o assunto.

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