É preciso atualizar a política de acumulação de forças

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Como é a vida real que gera a consciência e não o contrário, precisamos nos colocar diante da nova realidade política emanada do golpe, parlamentar, midiático, judiciário, e da crise global do capitalismo, marcada por contradições que se retroalimentam configurando o caráter sistêmico da crise, também associada ao advento de uma nova revolução tecnológica e cientifica de caráter informacional com base técnica nos microprocessadores e na nanotecnologia e biotecnologia, com a hegemonia do capital financeiro, promoverá um grande impacto nas relações sociais.

Penso que devemos enfrentar esta nova realidade, com o desprendimento e a coragem política que o partido já demonstrou ao se confrontar com outras situações históricas críticas.

No campo das alianças.

No campo da ação política, não basta repetir fórmulas acabadas, sem levar em conta um novo conteúdo da luta de classes com uma ruptura do processo democrático. Como dizia Lênin em um determinado momento histórico “a política se parece mais com a álgebra que com a aritmética e mais ainda com as matemáticas superiores que com as matemáticas elementares, na realidade todas as formas antigas do movimento socialista adquiriram um novo conteúdo, razão pela qual surgiu diante das cifras um sinal novo, o sinal ´menos´, enquanto nossos sábios continuavam (e continuam) tratando teimosamente de persuadir-se e de persuadir todo mundo de que ´menos três´ é maior que ´menos dois´”.

Devemos procurar construir um novo conteúdo tático diante de uma correlação de forças adversa ao Partido e à luta do povo, toda politica de aliança devemos avaliar se vai ou não contribuir para o nosso fortalecimento perante nossos representados (as) isto é nossa base e em torno de que projeto. Pois é com ela é que vamos lutar e construir nossa base eleitoral própria.

Acumular para não retroceder

Esta questão, está relacionada com a nossa elaboração síntese fundamental do Partido, interagir a luta institucional, luta de ideias e luta social. Estes três vetores de acumulação de forças, estão oscilando de acordo com a realidade histórica concreta, hora carregamos, mais em um, ou no outro, mas a questão é de como se detectou na 10a Conferência Nacional, é a ciência e a arte de imprimirmos um caráter sinérgico, entre estes três vetores. Porém, no geral, a vida tem mostrado que nos institucionalizamos em várias frentes de representação e nos afastamos das bases.

A par das conquistas de posições, como um elemento fundamental para a acumulação de forças, como o exemplo do Maranhão, que foi liderado por um quadro da estatura de Flavio Dino no Governo estadual, este fator fez a diferença, e que é determinante para que nossas posições conquistadas serem também instrumentos ou trincheiras de uma contra-hegemonia às ideias neoliberais, isto é, nos posicionar sob a ótica a lutas de classes em nosso pais.

Hoje, a maior base na luta de classes de nosso tempo e em nosso país é, de um lado, a classe trabalhadora que, mesmo heterogênea, que luta por melhores condições de vida com fortalecimento dos serviços públicos, educação, saúde, cultura e lazer e, do outro lado, a burguesia financeira dos rentistas aliada do imperialismo que busca sufocar a indústria nacional em função de interesses menores.

Sem deixar de explorar as contradições das classes dominantes, o momento agora é da construção de uma frente ampla, diante de um estado de exceção, a defesa do estado de direito. A nova correlação de forças nos indica que não vamos dividir os de cima sem unir os de baixo. O centro de nossa tática deve residir em concentrar esforços, inteligência e nossas energias, na construção de um forte movimento político e social de massas em torno de um projeto nacional de desenvolvimento fundado na valorização do trabalho, na democracia e na soberania nacional, sem visão imediatista. Avançando neste sentido deveremos atrair forças do centro ligadas ao setor produtivo nacional e outros setores democráticos e progressistas, pois a luta por uma nova hegemonia não passa por um só partido.

Nossos desafios

Diante da derrota que sofremos, penso que devemos estar abertos a repassar todas estas frentes, para uma profunda reatualização nestes três vetores de acumulação. Cabe-me, tratar neste texto a questão de relação com a classe.

A classe trabalhadora passa por sua própria experiência politica e partidária. Com o objetivo de enfrentar uma contradição, colocada pelos condicionamentos históricos, que é a relação orgânica do nosso partido com a classe que nos deu origem, a classe trabalhadora, não podemos perder o senso de representação, pois se trata de nossa natureza de classe. Penso que devemos criar uma força tarefa envolvendo todas nossas frentes de atuação da estrutura partidária: Fundação Maurício Grabois, frentes sociais como UJS, UBM, Unegro, UNA, Conam, e, destacadamente, os comunistas da CTB.

“E assim como na vida privada se distingue entre aquilo que um homem pensa e diz de si próprio e aquilo que realmente é e faz, nas lutas históricas há de se distinguir ainda mais entre as frases e o que os partidos imaginam e o seu organismo efetivo e os seus interesses efetivos, entre a representação que têm e a sua realidade.” (Karl Marx O 18 de Brumário de Luís Bonaparte).

É visível que a classe trabalhadora não se colocou enquanto tal diante do golpe e das eleições municipais. É preciso analisar quais foram as razões objetivas e subjetivas para este comportamento. Objetivamente a classe que vive da venda de sua força de trabalho está mais heterogênea e também dividida. No Brasil, ainda temos uma grande massa de precarizados, que moram nas periferias recebem de um a três salários mínimos. E, em menor proporção, quadros trabalhadores com elevada formação e melhores salários, que convivem em bairros de “classe média” e de nível de ensino superior, impactados com as mudanças no trabalho pelas revoluções tecnológicas. Faz-se necessário retomarmos o exame e o estudo desta nova classe trabalhadora.

Subjetivamente, a luta dos trabalhadores e trabalhadoras do ponto de vista massas, está nucleada pelas centrais e divididas com os sindicatos em geral afastados do local de trabalho, enquanto o capital introduz os softwares nas máquinas (o que nada mais é que a apropriação da inteligência humana através da ciência no trabalho) e não se discute mais as OLTs – Organizações por Locais de Trabalho, que deveriam ser os nossos softs para traçarmos estratégias de luta no interior das empresas. Precisamos ter nossos núcleos dentro das empresas, sindicais, com cipeiros, diretores de bases e também de Partido.

Sobre a classe trabalhadora foi lançada a salgada conta do golpe. Temos a PEC 55(241), que pode acabar com o SUS e deteriorar de vez a educação pública. O projeto de terceirização e a reforma trabalhista que estabelece o primado do negociado sobre o legislado (colocando o mercado acima da Lei), além de tornar mais precária as relações de trabalho, vão comprometer o conceito de sindicato e de categoria. Avança o desemprego em massa, estrutural e geral, o trabalho temporário e a redução dos salários. O objetivo é reduzir o custo do trabalho e aumentar a taxa de exploração e os lucros capitalistas.

No entanto, os movimentos se desenvolvem em saltos, tem seus momentos de fluxo e refluxo, as contradições se avolumam em nível insuportável, o desemprego atinge a todos os setores da classe. Estou convencido de que é preciso conferir absoluta prioridade ao difícil trabalho de elevar o nível de consciência social e política da classe trabalhadora. Os sindicatos, com todos seus instrumentos, hoje sob risco, precisam urgentemente alertar os trabalhadores acerca do grande retrocesso que o golpe colocou em marcha. É preciso buscar a unidade de ação das centrais para sua própria sobrevivência e construir o protagonismo político da classe na luta de resistência sob a bandeira de nenhum direito a menos, da democracia e da defesa dos interesses populares e nacionais. Assim a forma de luta aparecerá. Será nesta luta que o partido vai garantir o caráter consciente da luta da classe. Todas as frentes sociais devem renovar seus vínculos com seus representados, suas bases, sobretudo, a juventude e as mulheres, que têm sido protagonistas nesta luta de resistência.

Uma nova realidade

Não se trata só de sindicalistas, mas, do conjunto da classe trabalhadora. Temos a necessidade de dialogar com novos temas colocados pela sociedade e novas demandas aos sindicatos. Muitas vezes subestimamos as pequenas ações em torno de temas que não consideramos políticos. É importante dialogar com as novas organizações que surgem em nosso tempo, por exemplo, as que lutam em defesa da diversidade, mobilidade urbana, saneamento, reurbanização das favelas, e que envolvem também trabalhadores (as). Uma grande frente de resistência ao golpe foi a da cultura. Nos bairros a juventude está ávida por cultura e criações artísticas que refletem a luta de classes e estas ações são politicas. Sem perder o rumo da grande política é também preciso desenvolver a pequena política, de modo a renovar nossa ligação com as massas. A juventude já está dando um grande exemplo de formas de lutas: as ocupações de escolas.

Daí a necessidade de uma reatualização do Partido sem perder o caráter de classe. Nesta nova realidade mais do que nunca se torna atual a exigência de um Partido Comunista contemporâneo de massas e de classe, que possa conquistar seu papel de força mais consciente e disciplinada, unir o povo de forma ampla a partir de uma luta de resistência que tenha como vetores principais a luta democrática, nacional e local, na perspectiva de um projeto de nação rumo ao socialismo. Este é o pressuposto para dar consequência a este movimento político e social que deve ir ganhando contorno de uma Frente Política Ampla e de caráter estratégico.

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