A unidade possível

Diante da ofensiva da direita, no âmbito internacional e nacional, é imperiosa a união de todas as forças democráticas, patrióticas e progressistas para conter esse avanço. Não é uma tarefa das mais simples, mas é uma exigência da qual nós não podemos prescindir.

As dificuldades vão desde distintas interpretações sobre a realidade mundial e mesmo nacionais, passando por confusões teóricas que confundem alianças estratégicas e táticas e chegando ao particularismo, onde o interesse individual e imediato acaba se sobrepondo ao interesse geral. Sem eliminar a possibilidade, sempre presente, de que sabotadores estejam “plantados” entre nós para executar o papel de “quinta coluna”, expediente ao qual os nazistas recorreram durante a preparação de ocupação da União Soviética, na 2ª guerra mundial.

É preciso, portanto, vê o que nos une e não o que desune, em busca da unidade possível. Não se trata da mera troca de nomes de pessoas e mesmo de partidos. Trata-se de uma luta de caráter estratégico que tenha três eixos como vértice: soberania nacional, democracia e direitos sociais.

O ponto de partida é reunir o conjunto de forças políticas e de personalidades que, por qualquer razão, se oponham a volta da aplicação da política neoliberal no Brasil, cujas consequências até hoje não superamos inteiramente, apesar de sua interrupção parcial nos últimos governos de Lula e Dilma.

Sem a contenção da política neoliberal é impossível imaginar o Brasil desempenhando qualquer papel mundial de relevo, seja no aspecto da soberania, da democracia ou do desenvolvimento social e econômico inclusivo, como vinha crescentemente fazendo.

Se até então o Brasil reafirmava sua soberania através de arranjos geopolíticos, como os BRICS, o Mersocul e demais fóruns mundiais, tudo isso está ameaçado diante da reorientação da política externa. A “nova” política externa do Itamarati, sob o comando de José Serra (PSDB), almeja apenas voltar a seu histórico papel de satélite dos Estados Unidos da América e de seus interesses, o que explica a vergonhosa atitude de retaliação do “governo” Temer contra países como Bolívia, Equador e, principalmente, contra a Venezuela.

O respeito ao regramento democrático, marca dos governos Lula e Dilma, tanto no plano interno como externo, fez com que o Brasil desempenhasse importante papel mundial em várias ocasiões. No plano interno foi capaz de conviver, sem violência, com opiniões divergentes e até mesmo abertamente hostis e preconceituosas, como se pôde constatar nas manifestações de apoio ao golpe.

Tive a oportunidade de participar de um fórum mundial sobre segurança alimentar, sob os auspícios da ONU, no qual o Brasil era, merecidamente, uma das principais referências na política de inclusão social, tanto pela extensão da renda, quanto de alimentos e programas sociais (luz pra todos, PROUNI, bolsa família, minha casa minha vida, Pronaf, etc.) para milhões de pessoas. Tudo isso está ameaçado.

É em defesa disso e de outros avanços ainda não enfrentados, como a democratização dos meios de comunicação e do judiciário, bem como de uma reforma política que assegure ampla e irrestrita liberdade de pensamento ideológico, equidade de gênero, caráter classista e voto programático, que a unidade possível se impõe.

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