Fogo na floresta

Os fogos na Amazônia, com milhões de focos em 2016, têm um significado muito maior do que parecem a olho nu. São chamas ateadas pela mão humana que, com o avanço da fronteira agrícola, desmatamento acelerado e a estiagem prolongada obtêm uma soma de fatores cujos efeitos são devastadores.

A densa fumaça que chega aos centros urbanos e gera mal-estares e doenças respiratórias nas populações é apenas uma parte do problema. Em verdade, as queimadas produzem grande parte do CO2 (dióxido de carbono) que a Humanidade joga em sua atmosfera, esquentando o Planeta.

O aquecimento da embalagem provoca efeito semelhante sobre o seu conteúdo, com o aumento da temperatura dos oceanos e continentes, gerando um ciclo vicioso. Esse calor externo fustiga a seca, que favorece o fogo, que produz mais fumaça, que vai gerar mais calor.

O INPE, de São Paulo, e o Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM) monitoram as queimadas na região, por satélite, há mais de uma década, mas até hoje não conseguiram dimensionar com precisão todos seus efeitos. É sabido, contudo, que elas interferem, em primeiro lugar, no clima do restante do País e, em seguida, em toda a Terra.

O fogo é parte da tradição indígena na agricultura, usado na abertura de novas áreas no sistema de rodízio de solos. Mas foi adotado pelo colonizador e hoje incorporado até no manejo de grandes espaços, nos quais é implantada a monocultura de grãos e a pecuária extensiva.

A diferença entre o uso tradicional e o agora praticado é brutal. A começar pelo fato de que em outros tempos os plantios eram feitos ano a ano em áreas diferentes, de modo a revitalizar os solos. O fogo repetido por anos a fio destrói a camada fértil do terreno, desertificando enormes trechos outrora cobertos de floresta.

Neste ano, as condições tidas como normais na Amazônia foram agravadas pela presença de um El Niño, fenômeno decorrente do aquecimento do Oceano Pacífico, na altura da costa peruana. Esse calor a mais vem junto com mudança no regime de ventos, o que provocou a estiagem ainda presente.

O Pacífico registrou sua temperatura mais alta desde 2001, segundo as medições do INPE, o que coincide com o aquecimento acima do normal também do Atlântico, fomentando a seca. Nessas condições, em que a floresta se fragiliza, quem ateia o fogo sabe onde ele começa, mas nunca onde irá terminar.

O Ibama, outros órgãos governamentais e ONGs têm intensificado as campanhas de combate ao uso do fogo no manejo da agropecuária na região, mas os resultados são pouco sensíveis. É uma técnica muito arraigada e mais barata, o que parece dificultar o convencimento dos produtores.

O mesmo ocorre com o controle do desmatamento pra retirada de madeiras nobres. As experiências feitas principalmente no Pará de retirada seletiva, com reposição de espécies, estão longe de darem resultados satisfatórios.

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