Negação da negação: tá na moda negar!

“Uma pessoa: ninguém, nenhuma pessoa: ninguém”; esta citação de uma das canções que mais gosto do Arnaldo Antunes poderia resumir o que foi o primeiro turno das eleições municipais de 2016, a primeira sob a égide do governo golpista de Michel Temer.

A primeira coisa que acho importante ser entendido é que o grande vencedor deste pleito foi o ninguém. Números enormes de abstenções, brancos e nulos; com destaque para as principais capitais do país como Rio de Janeiro (aproximadamente 2 milhões de eleitores), São Paulo (quase 3 milhões) e Belo Horizonte (mais de 740 mil pessoas) demonstram como a população está desacreditada com a política de maneira geral.

Para compreender melhor esta situação, cabe observarmos ainda as votações de candidatos que buscaram (e buscam) se identificar com a “novidade”, a “renovação” e, principalmente, a “não política”. Esta última talvez seja a grande questão a ser compreendida, pois ela é uma faca de dois gumes extremamente perigosa.

Desde as manifestações de 2013, está em moda algo que podemos chamar de “Negação da Negação”, um discurso de que todo político é bandido, nenhum parlamentar eleito representa o povo e eleições não servem de nada. O resultado desta lógica (meio sem lógica) foi a criação de coletivos (MBL), partidos (Novo) e candidatos de extrema direita, alguns claramente de influência fascista como os Bolsonaros (todos), com espaço, voz e (agora) voto.

Obviamente que nosso sistema eleitoral precisa ser remodelado. Da maneira como se encontra, favorece mesmo a eleição de parlamentares de cargo vitalício ou hereditário, além dos donos do capital financeiro e oligarcas do agronegócio. Mas reformar a legislação eleitoral precisa ser para aumentar a democracia, não para piorar nossa cambaleante representação política.

Como este debate de mudanças realmente democráticas não esteve na pauta principal das principais candidaturas do país, o discurso da negação da negação ganhou espaço, especialmente com a campanha eterna da mídia televisiva e radiofônica contra Lula e a esquerda, ou seja: as ideias plutocráticas de que “tudo é igual”, “não faz diferença votar” e coisas do tipo conseguiu deixar parte importante do eleitorado desacreditada. Some-se a isso ainda um golpe político com a presidenta eleita Dilma, em que mais de 54 milhões de votos foram jogados no lixo.

Este descrédito do eleitorado, somado com a campanha global contra o PT, resultou na eleição de “não políticos”, como João Dória (PSDB) em SP ou enormes votações de líderes messiânicos evangélicos como João Leite (PSDB) em BH e Marcelo Crivella (PRB) no RJ. Ou seja, o discurso do “não me representa” e a negação de votar fez com que os que foram às urnas votassem contra o que julgam ser a “tradicional” política. Um erro grave, quando na verdade, estão votando apenas em novas cabeças para velhas ideias.

É preciso que se entenda (a esquerda principalmente) que quem ganha com a despolitização da sociedade é exatamente quem quer destruir o Estado nacional, ou seja: o capital financeiro internacional, os mesmos que orquestraram o impedimento da presidenta Dilma e estão por trás do chamado “pacote da maldade” de Temer!

Ao se plantar esta ideia de negação da negação, quem deixa de ir às urnas e desacredita da ideia de lutar por uma sociedade mais justa é exatamente o eleitorado da esquerda! Os números absolutos do primeiro turno das eleições deste ano mostram claramente que a direita não aumentou significativamente de votos de maneira global, mas a esquerda perdeu votos, pois parte de seu eleitorado se mostra descrente com os rumos da política do país!

O grande recado das urnas é este do parágrafo acima! A direita não aumentou em votos, a esquerda que perdeu parte de seus votos (e representantes no parlamento) especialmente pela campanha difamatória da mídia contra a política (de forma geral) e por setores sectários de extrema esquerda que teimam em negar a política como a saída de qualquer crise!

Em momentos como este, que é urgente uma ação estratégica ampla para barrar o retrocesso que as forças democráticas responsáveis são chamadas a unir forças, repensar seus discursos e fazer política, muita política.

Se quisermos ganhar de volta as mentes e corações das pessoas que estão descrentes com os rumos do país, é preciso voltar para as bases, retomar o diálogo com as comunidades e mostrar que mesmo com o golpe sofrido o sonho de uma sociedade mais justa não acabou!

Pensemos nisso, negar é humano, mas permanecer negando a política é burrice!

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