Há algo a comemorar na prisão de Cunha? 

À primeira vista, sim; criminoso contumaz e atolado em um caldeirão de provas de corrupção, deve pagar pelos seus crimes.

Porém é bom ir devagar que o santo de barro. Ou seja, tudo leva a acreditar que a prisão de Cunha obedece a uma estratégia bem urdida e calculada destinada a prender em breve o ex-presidente Lula.

Lula, como se sabe, já é réu em três ações penais fundadas não em provas, mas tão somente na "convicção" dos procuradores. E há uma indisfarçável intenção de torná-lo inelegível na próxima eleição presidencial.

Coincidentemente, a decisão de prender Cunha acontece logo em seguida à divulgação de pesquisa Vox Populi que o aponta, mais uma vez, na dianteira da preferência do eleitorado.

Eduardo Cunha, peça chave na trama do golpe que afastou Dilma da presidência da República, depois de perder o mandato de deputado e continuar circulando por Brasília (inclusive residindo ilegalmente em apartamento funcional da Câmara), tornara-se uma figura incômoda e descartável — ainda que inspire medo em Temer e seu bando e na cúpula dos partidos que patrocinaram o impeachment.

Até figuras proeminentes do Judiciário, especula-se, teriam razões para temer revelações supostamente guardadas por Cunha como cartas na manga.

Entretanto, tão logo anunciada a prisão do ex-presidente da Câmara, desta vez cercada de cuidados e mimos bem diferentes do espetáculo midiático costumeiro, comentaristas globais e parlamentares da linha de frente do impeachment se apressaram em afirmar que agora estaria definitivamente afastada a versão de que a operação Lava Jato é seletiva e essencialmente direcionada a atacar o PT.

Conversa para boi dormir!

Gente como os senadores Aécio Neves e Romero Jucá, respectivamente presidentes do PSDB e do PMDB, colecionam um monte de citações e provas testemunhais em diversas delações premiadas e continuam intocados. Permanecem protegidos por uma blindagem policial-judicial-midiática.

Entrementes, o golpe segue desmontando conquistas e direitos alcançados em pouco mais de uma década nos governos Lula e Dilma e sustentando uma narrativa ultra reacionária sobre a crise, para fazer valer a versão das forças golpistas de que todos os males de que padecemos agora se devem aos doze anos de governo democrático liderado pelo PT.

Como se não existissem a crise global e suas repercussões sobre a economia brasileira, nem o boicote ao governo Dilma patrocinado pelo “mercado” e pela mídia hegemonizada e operado pela maioria fisiológica e reacionária da Câmara e do Senado.

Ao movimento democrático e às forças de esquerda cumpre não baixar a guarda. E seguir a resistência ao governo Temer e se prepararem para uma provável prisão de Lula.

Assim mesmo, oxalá a prisão de Cunha enseje, mediante delação premiada ou não, a revelação do que se procura esconder até agora: a lama que tinge grande parte dos que hoje pousam como arautos do combate à corrupção.

Se assim ocorrer, Temer e o bando que ocupa o Palácio do Planalto poderão ser desmascarados mais cedo do que o esperado.

É acompanhar e conferir.

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