Podem os resultados das eleições reverter a “tese” do Golpe?

Os golpistas estavam profundamente preocupados com a consolidação da tese do golpe entre a sociedade. Não que houvesse ilusões no sentido oposto, mas é que a identificação do golpe parlamentar/midiático/judiciário, por ampla parcela da opinião pública, nacional e internacional, parecia ter vindo cedo demais.

A última esperança residia na melhora da economia. Entretanto, a depender dessa possibilidade – ainda mais com a visão ortodoxa que orienta o governo Temer -, nem o mais entusiasta golpista conseguia enxergar uma luz no fim do túnel.

Em artigo veiculado no jornal “O Valor Econômico” do dia 06/09, intitulado “Só economia pode reverter a tese do golpe”, Raymundo Costa alerta que “O governo Temer tem a clareza de que está perdendo a guerra da versão do golpe, um discurso que encontrou guarida interna e externamente”. Preocupa, ainda mais, o fato de que o “Fora Temer” vem embalando manifestantes em todo o país.

Assim sendo, o jornalista ajuíza que o problema maior para Temer e seus aliados “não é evitar a tese do golpe, mas revertê-la”. Para isso aposta todas as fichas na reconstrução da economia.

É sempre bom lembrar, contudo, que nem mesmo o chamado “milagre econômico” da economia brasileira, vivenciado em pleno auge da ditadura militar, entre 1968 e 1973, com a taxa de crescimento do PIB oscilando entre 9,8% a 14%, conseguiu evitar a tese do golpe militar. E tudo isso considerando a censura da época e a inexistência das redes sociais!

Hoje, a situação é muito, mas muito diferente. Se uma boa parcela da classe média é até capaz de perder conquistas ou privilégios calada e sem baixar o topete para reconhecer que sua vida era melhor durante os governos petistas, mais de 40 milhões de brasileiros que passaram a comer carne todo dia não aceitarão passivamente voltar para a farinha com rapadura.

Para piorar, os indicadores econômicos pioraram drasticamente, agravados por uma série de fatores externos e internos, notadamente aqueles decorrentes da ofensiva perpetrada pela Operação Lava Jato contra importantes empresas brasileiras do setor de infraestrutura. Pioraram os indicadores: arrecadação, emprego, consumo, renda e investimentos das empresas.

Na última quinta-feira (29/09) a Receita Federal divulgou dados alarmantes sobre a arrecadação de impostos no mês de agosto, com uma queda de 10,1% em relação ao mesmo período no ano passado. Com relação ao emprego, 230 mil vagas com carteira assinada foram fechadas nos últimos três meses, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo das famílias recuou 5% no segundo trimestre de 2016, em relação ao mesmo período do ano passado. Os investimentos também despencam. O setor de máquinas e equipamentos teve queda de 17% em agosto, nesta que já é considerada a maior crise do setor nos últimos 80 anos.

Eis que os resultados destas eleições de dois de outubro foram capazes de melhorar o astral da turma do Golpe. Já falam grosso que o PT sofreu uma surra histórica; que seu lugar, doravante, é na lata do lixo da história. João Dória, no auge de sua arrogância de vencedor de primeiro turno, lançou Alckmin à presidência de 2018 e provocou Lula dizendo que irá visitá-lo em Curitiba. Enfim, os golpistas estão tripudiando.

Por outro lado, os resultados destas eleições evidenciam ainda mais o caráter do Golpe que, tal como o de 1964, visa exterminar a esquerda (como se isso fosse possível), usando os mais inverossímeis mecanismos.

Devagar com o andor que o santo é de barro. Mais cedo ou mais tarde a fatura vem. Três, quatro ou cinco meses é quase nada no tempo histórico. Até 2018 há muita água por passar nesse moinho.
Enquanto isso, as peças no tabuleiro vão se mexendo e cada vez mais se escancara a perseguição irracional e violenta contra Dilma Rousseff que sequer conseguiu votar em presença dos jornalistas, escorraçados a pontapés pela polícia, a mando da justiça.

Apenas os ingênuos poderiam imaginar outro cenário eleitoral, após tão intenso bombardeio midiático alimentado diuturnamente pela Lava Jato e que conseguiu afastar dezenas de milhões de brasileiros de votarem (só na cidade de São Paulo foram três milhões).

Daqui pra frente a vidraça não será apenas Temer. O PSDB estará com seu telhado de vidro ainda mais à mostra, com o desafio de governar com uma agenda extremante antipopular na época das redes sociais.

Nada poderá apagar a nódoa do Golpe.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor