O golpe: aula prática sobre estado e luta de classes

Do ponto de vista teórico está devidamente pacificado que a sociedade é dividida em classes – na maioria das vezes com interesses antagônicos – e que o estado é um instrumento de dominação da classe dominante de “plantão”.

Infelizmente essa assertiva teórica ainda não é de compreensão das amplas massas e nem mesmo dos círculos acadêmicos, o que permite que a classe dominante (os de “cima”) continue governando apesar de demonstrar, crescentemente, cada vez mais desprezo pelo povo. A confusão é tanta que até mesmo pretensos intelectuais confundem estado com governo e governo com poder.

Como a classe dominante tem o absoluto controle do estado e, naturalmente, de seus aparelhos (executivo, legislativo, judiciário, meios de comunicação, etc.), seria ingenuidade imaginar que essa estrutura montada exatamente para perpetuar o poder da classe dominante servisse, de alguma forma, para esclarecer o povo de que maneira ele é dominado e explorado pela classe dominante.

Mas, como a sociedade evolui exatamente pelo choque entre os interesses das classes sociais, é nos momentos de grande tensão, de entrechoques, como o do golpe parlamentar que acaba de ser executado no Brasil, que o povo vai fazendo o seu aprendizado.

Por isso não é exagero afirmar que o golpe atual também tem esse papel educativo. Reverte-se numa grande aula prática sobre estado e luta de classes, onde a vontade soberana de 54 milhões de brasileiros é solenemente ignorada sem que a classe dominante se dê sequer ao trabalho de arranjar um pretexto menos pitoresco do que as “pedaladas”, que sequer restou provado.

O debate sobre classes sociais e o papel do estado sempre mereceu grande atenção de distintos intelectuais, das mais diversas matizes ideológicas e concepções teóricas, dentre os quais destacamos Thomas Hobbes, Montesquieu e Marx & Engels.

Thomas Hobbes, na obra O Leviatã (1651) sustenta que homem é egoísta por natureza, naturalmente mau e perverso. Só é possível viver em sociedade submetendo-se a vontade de um soberano com poderes absolutos. Defendia, portanto, o absolutismo, um estado autoritário, no qual posteriormente iria se inspirar Hayek para publicar em 1943 a obra “Caminho da Servidão”.

Montesquieu, no Espírito das Leis (1748), se manifestou contra o absolutismo e fez severas críticas ao clero católico, especialmente no que dizia respeito ao seu poder de interferência política. Reconhecia a existência de classes sociais distintas e defendia aspectos democráticos de governo e o respeito às leis. É de sua lavra a concepção contemporânea da divisão do estado em três poderes (executivo, legislativo e judiciário), no qual ele imaginava um estado mediador e capaz de conciliar os distintos interesses de classes.

E, finalmente, Marx & Engels, em A origem da família, da propriedade privada e do estado (1884), demonstram que a sociedade é dividida em classes e que o estado nada mais é do que o instrumento de dominação dos interesses da classe dominante.

E o golpe executado demonstra cabalmente a justeza dessa assertiva teórica.

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