Democracia e nação

As manifestações realizadas em algumas cidades brasileiras como em São Paulo, com mais de 100 mil pessoas, contra a deposição de Dilma Rousseff, mostram que as insatisfações sociais são muito maiores que “grupos de 40 pessoas” como Temer falou à mídia.

Aliás, os carimbados Black Blocs, sumidos desde as convulsões sociais de 2013, voltaram às ruas. As provocações andam soltas a serviço de óbvio script premeditado.

Já o impedimento da ex-presidente Dilma não obedeceu às regras fixadas pela Constituição de 1988, num dos seus mais graves institutos, resultou da ação dos que foram derrotados nas urnas e à queda de popularidade de Dilma.

Que foi corroída pela mais séria crise estrutural do capitalismo desde a debacle de 1929, com a ruína da economia mundial, tragédia para centenas de milhões de trabalhadores, penúria, fome generalizadas, associada a erros políticos e econômicos na gestão da ex-presidente.

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em entrevista antes do impedimento, afirmou ao jornalista Luís Nassif que o Brasil ainda não possui efetiva tradição democrática. Há um viés autoritário em nosso itinerário republicano, mesmo depois da promulgação da Constituição de 1988.

Após o regime ditatorial, dos quatro presidentes eleitos dois sofreram impeachment por razões políticas, outros dois escaparam por pouco embora suas matrizes políticas e econômicas fossem distintas.

Assim como o pacto constitucional, a centralidade dos interesses da nação tem sido prejudicada com a ausência de um projeto duradouro de desenvolvimento em infraestrutura, educação, saúde, incremento das suas potencialidades industriais, científicas, tecnológicas, de Defesa, reféns, inclusive, da hegemonia no País do capital financeiro parasitário.

O Brasil vive sob grave crise econômica de origem externa e interna, alvo de ambições e ingerências geopolíticas globais, assolado por tempestades de ódios difusos propagados via mídia monopolista ligada a grupos retrógrados nativos e forâneos. Age como proprietária da nação.

Nessa nova quadra, é vital travar o combate pela legalidade democrática aviltada e, seja lá quem for, não convém arvorar-se em alter ego dos destinos políticos do país. Assim como urge a luta em defesa dos rumos estratégicos ao desenvolvimento da nação sob ameaças.

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