128 dias de Golpe: O assalto final

As 13h35min do dia 31 de agosto de 2016 o Brasil e o mundo assistiu, entre perplexo e indignado, a consumação de mais um golpe contra a jovem democracia brasileira. Uma farsa de 122 dias chegava ao assalto final.

O impeachment foi uma grande farsa, de fazer inveja ao tribunal da inquisição. Ali, pelo menos formalmente, o acusador não era julgador. Aqui o PSDB pagou pra fazer a “denúncia”, entrou com o processo e escalou o relator. Os inquisidores de Galileu Galilei não eram tão ousados.

O golpe não foi contra uma pessoa, no caso a presidenta Dilma Rousseff, e muito menos contra atos eventualmente ilegais por ela praticados, na medida em que restou provado, tanto pela perícia do Senado quanto pelo parecer do Ministério Público Federal (MPF), que a presidenta não praticou “pedaladas” e tampouco teve qualquer participação prática nos chamados decretos de abertura de crédito.

Qualquer analista isento, no Brasil ou no exterior, terá muita dificuldade para classificar esse processo sem denomina-lo de golpe. Nem Temer e seus aliados conseguiram essa proeza, mesmo contando com a generosidade da mídia e recorrendo a um enorme contorcionismo retórico, o que explica seu crescente mau humor. Percebe que passará para a história como golpista e seu nome será amaldiçoado tão logo desça as escadas do palácio do planalto. Ato contínuo é assistir seu nome ser arrancado dos prédios e monumentos onde eventualmente for aposto pelos acólitos de sempre.

O que houve, então, no Brasil?

Em 516 anos de nossa curta história, o Brasil teve 04 mandatários com algum compromisso com as camadas populares: Getúlio Vargas, João Goulart (Jango), Lula e Dilma. Apenas Lula conseguiu concluir seu mandato, apesar de toda a campanha insidiosa da direita. Getúlio se suicidou em 1954 (em 24 de agosto); Jango foi apeado por uma quartelada militar, articulada pela mesma matriz de pensamento que articulou o golpe contra a presidenta Dilma.

A classe dominante não quer apenas depor Dilma, quer mudar a política, especialmente no que diz respeito à reforma da CLT, a reforma da previdência, a retomada das privatizações e um novo alinhamento internacional de submissão aos Estados Unidos.

Eis porque o processo de impeachment não passou de uma farsa grotesca, onde o acusado já entra condenado e os argumentos são apenas para tentar legitimar a farsa.

O modus operandi é sempre o mesmo. A classe dominante, utilizando “o estado como instrumento de dominação de seus interesses”, recorrerá sempre a qualquer mecanismo para impedir que qualquer governo atenda, mesmo que parcialmente, os interesses do povo.

No presente os golpes militares estão, momentaneamente, “fora de moda”. Há outros mecanismos, como o golpe parlamentar, aliás, já utilizado no Paraguai e entre outros países do mundo. A classe dominante, portanto, sempre recorrerá ao estado (meios de produção, o governo, meios de comunicação, judiciário e legislativo) – não confundir com governo – para fazer valer os seus interesses se eventualmente eles forem contrariados.

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