O papel do esquerdismo no Golpe de 2016

Partidos ditos de esquerda e seus adeptos que foram às ruas – e ocuparam as redes sociais – exigindo “Fora Todos” sumiram de cena. Escafederam-se. Agora, quem ocupa o picadeiro é o governo Temer (não mais interino).

O esquerdismo (definido didaticamente por Lenin como doença infantil do comunismo) sempre foi um cancro, ora latente, ora manifesto, entranhado nos movimentos populares e de esquerda. Historicamente, carece-lhe, fundamentalmente, de leitura histórica e compreensão da chamada correlação de forças. Presentemente, falta-lhe vergonha na cara.

João Amazonas foi, certamente, o líder político brasileiro que mais combateu as ideias de Leon Trotsky (principal expoente do esquerdismo mundial) e aquilo que se convencionou a chamar de trotskismo. Dizia ele que “em toda parte onde cresce o movimento revolucionário, aí aparecem os trotskistas para confundir, diversionar, enganar as massas. Difundindo teses sectárias, intitulando-se falsamente de marxistas e até de leninistas, fazem o jogo da reação e do imperialismo. Seu alvo predileto de ataque é o partido do proletariado (…).”

Lamentavelmente, até o presente momento, não vi um artigo sequer comentando o papel do esquerdismo na queda de Dilma Rousseff. Como isso é possível se foram os esquerdistas um dos principais colaboradores desse Golpe? Teria a esquerda brasileira convivido tanto tempo lado a lado com os trotskistas a ponto de os considerarem “companheiros” de luta?

De fato, a esquerda brasileira é marcada por uma fragmentação muito grande, manifestada na atuação de um sem-número de correntes e partidos políticos, que se unem em torno de um vasto espectro baixo a consigna de “um mundo melhor é possível”, abrigando aí mais espécies exóticas que o zoológico de Berlim.

Mas toda e qualquer crítica e autocrítica da chamada esquerda brasileira nesse grave momento de golpe contra a democracia brasileira, passa por uma reflexão acerca do papel jogado pelo trotskismo como braço auxiliar da direita, a fim de desmascará-lo, principalmente para “as novas gerações de combatentes da causa socialista” que, como afirmava Amazonas em seu tempo, “desconhecem a trajetória e os verdadeiros objetivos do trotskismo”.

Estivesse vivo, João Amazonas teria comprovado, uma vez mais, seu prognóstico: “Ainda que não representem grande coisa como organização, influenciam certos setores do movimento popular, notadamente os de origem pequeno-burguesa”. Realmente, PSTU e PSOL juntos, reunidos numa tal CSP-Conlutas, fez grande estrago na imagem do governo Dilma e de toda esquerda.

Nos treze anos de governos Lula e Dilma assistimos mais greves nas universidades e institutos federais que em oito anos de governos FHC. Ano passado, por exemplo, em um dos momentos mais críticos do governo Dilma, uma greve de aproximadamente três meses paralisou boa parte do ensino superior brasileiro. A pauta do movimento “paradista” era a mais difusa possível, indo desde o fim do ponto biométrico nos campi até a auditoria da dívida pública.

Assim que Temer assumiu o governo de forma interina extinguiu o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e quantos foram os atos organizados pelos sindicatos e organizações trotskistas, como Andes e Sinasefe, para barrar esse retrocesso? Nenhum.

No máximo, houve uma campanha de adesivos, camisetas e moções da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que antes era tão ávida na cobrança por mais recursos e que hoje se contenta pela recomposição do orçamento em C&T aos mesmos patamares de 2013.

Hoje vejo inúmeros militantes de esquerda reivindicarem greve contra o governo golpista de Temer e suas medidas anti-populares. Infelizmente é tarde demais. As greves, como poderosas ferramentas de pressão e mobilização popular, foram totalmente banalizadas. De tanto conviver com as greves – quase que anuais no Brasil -, a população brasileira acostumou-se com elas.

Outro ponto extremamente negativo patrocinado pelos trotskistas foi a desmoralização do servidor público. Toda pauta de greve dos sindicatos esquerdistas era como um tapa na cara do trabalhador comum, que se sentia ofendido ao ler, por exemplo, reivindicações de três dias de trabalho para os professores federais ou jornada de trabalho de trinta horas num país onde ele trabalha 44 horas por semana.

O corporativismo e a pauta mesquinha descolada dos grandes temas nacionais desmoralizaram imensamente o servidor público – e consequentemente o serviço público – que não soube aproveitar os inúmeros avanços obtidos na época.

Hoje não encontramos mais os nossos “companheiros” trotskystas. Já fizeram seu trabalho. Mas irão continuar se fazendo de vítimas e posando como os verdadeiros revolucionários e representantes da mais pura esquerda nacional e internacional. Temer, Renan e Cunha agradecem, afinal de contas, o “Fora Todos” não era tão radical assim.

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