Frente Favela: Um partido de luta ou uma luta repartida?

Deu-se neste mês de agosto, no Rio de Janeiro, o lançamento daquela que pretende ser a 15ª legenda partidária do país, o Frente Favela (FF). Com a presença de artistas renomados, como Sandra de Sá, Lázaro Ramos, MV Bill e Sergio Lorosa, antes mesmo de se registrar esta nova agremiação já surge causando enormes debates nos movimentos sociais.

Sobre a ótica de que nenhum partido dá espaço para os negros e negras, o FF se coloca como se fosse o local daqueles que nunca “tiveram vez”, ou seja, seria algo como se fosse uma casa onde os afrodescendentes e favelados teriam espaço pois não tem lugar algum onde estes tenham direito a voz no sistema eleitoral brasileiro.

Debates como este do FF não são novos, na década de 1930 houve a primeira tentativa de criação de um partido político de negros e nos anos 1960 houve os Panteras Negras nos USA, aglomerando parte significativa da população afro estadunidense.

Após toda esta contextualização cabe perguntar: qual afinal é a ideologia do FF? Pelos documentos que li nenhuma aparentemente. Colocam-se como um espaço onde todos e todas são bem vindos, mas não colocam por que. Ou seja: falta uma ideologia definida.

Qualquer agremiação que não possui claramente uma ideia de ruptura com o sistema capitalista, serve apenas a este, ou seja, quer dar espaço para “os sem vez”, mas não quer resolver o problema mais profundo, que é “porque” estes cidadãos e cidadãs não tem vez.

O capitalismo brasileiro tardio e seu processo de escravatura por mais de 300 anos deixou marcas profundas na luta de classes brasileira, sendo a principal é que existe de fato um racismo presente juntamente com a opressão de classe e gênero, ou seja, temos uma característica própria de exploração com gênero, cor e, é claro, classe, a classe operária.

Por termos todas estas características, somado ao processo de industrialização recente e falta de espaço interno paritário, os partidos de esquerda, que historicamente eram onde estes oprimidos se reuniam ou se identificavam eleitoralmente, começaram a deixar de ser o local prioritário de identificação de luta do povo negro.

O grande problema disso, é que ao começarem a buscar uma nova estrutura de organização que seja diferente das legendas de esquerda (PCdoB, PT, PSOL, PSTU, PCB, PCO), corre-se o risco (como o FF) de se negar a mais primordial das lições de Karl Marx: o enfrentamento entre as classes dominante e dominada.

É preciso que se fique claro que não quero dizer aqui que a briga contra o racismo, ou a busca por espaços de igualdade entre negros e brancos deva ser renegada, assim como a discussão de gênero e o debate sobre a opressão histórica que as mulheres sofrem. Entretanto, estas lutas, não podem, sob hipótese alguma serem realizadas fora da ótica da luta de classes, pois do contrário, não teremos o fim de nenhuma destas situações, pois apesar de todas serem culturais e surgido antes do modelo de exploração capitalista, precisamos superar este sistema para seguirmos na busca pelo fim destas, afinal a mudança de paradigma econômico é o primeiro passo para a superação para o avanço de todos estes avanços sociais.

Não quero também negar que exista racismo ou machismo nas agremiações de esquerda, eles existem, precisam ser combatidos e pautados, afinal de contas quem está nestes partidos são também seres humanos (em sua maioria homens brancos), com os mesmos vícios e virtudes que qualquer membro da sociedade ocidental burguesa, ou seja: mesmo fazendo uma opção de classe pode cometer desvios culturais e até ideológicos que não condizem com a bandeira que carregam.

O erro grotesco de medir uma ideologia pela postura de seus membros, assim como pela falta de espaço para o debate racial (especialmente) e de gênero, pode estar cravando uma facada perigosa na esquerda brasileira, pois o surgimento do Frente Favela, nada mais é que mais uma legenda de aluguel travestida de boas ideias, como o PMB (Partido da Mulher Brasileira) e o PEN (Partido Ecológico Nacional).

A velha ideia burguesa de dividir o proletariado cada vez faz mais sentido, pois o FF vai contribuir para desmobilizar ainda mais a classe operária, subdividindo-a em segmentos, como se no fundo não fossem todos e todas explorados pelo grande capital financeiro.

Será que a periferia vai cair no canto da sereia de um partido “só” dela, mas nem tão dela assim? Não sei, vamos pagar para ver, por hora o que é possível afirmar é que estamos vendo mais uma bela jogada da direita na eterna luta de classes e de sua estratégia de repartir e segmentar os e as trabalhadoras.

Até a Próxima!

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