A sina de agosto 

Agosto é o mês do cachorro louco, do capeta solto nas ruas e nas matas, do desgosto e muito mais. É o que nos prega a crendice popular. De onde vem essa crença? Terá fundo de verdade?

Dizem que a má fama do fatídico mês vem da Roma Antiga, quando foi implantado o calendário até hoje em vigor. E desde então são produzidos os mais diversos tipos de orações e pajelanças, que sirvam de proteção, mas ele segue agourento.

A História do Brasil é repleta de eventos que parecem confirmar a procedência da superstição. Só no século passado, tivemos, por exemplo, o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, ambos eleitos presidentes da República por ampla votação popular.

A sessão do Senado Federal que, na madrugada da última quarta-feira, dia 10, autorizou o seguimento do processo de impeachment de Dilma Rousseff deu indicações de que a sina se repete. O ministro do Supremo Ricardo Lewandowsky, que preside a comissão, tem trabalhado no sentido de que a votação final seja ainda antes do final do mês.

Ou seja, desta vez é um golpe de Estado que se concretiza em agosto. Não há crime comprovado, de modo que a cassação do mandato é política, e será realizada por um colégio de parlamentares que abriga grande número de corruptos.

Como resultado da votação, foi aprovado o relatório do senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), ele próprio condenado por desvio de dinheiro quando foi governador de Minas Gerais. Uma completa inversão de valores, com criminosos julgando e condenando uma inocente.

O resultado de 59 a 21 votos foi acima da margem esperada, superando aquela que autorizou a abertura do processo, há cinco meses, quando os golpistas obtiveram 54 votos. Ou seja, de lá pra cá vários senadores mudaram seu voto.

Os discursos proferidos por eles foram resumidos no do senador Fernando Collor (PTC-AL), ex-presidente deposto em 1992. Segundo ele, na gestão de recursos públicos Dilma teria infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, o que seria motivo de afastamento. Além disso, ela seria pouco afeita ao diálogo com outras forças políticas.

Ou seja, Collor deve estar se referindo aos ajustes do “toma lá, dá cá” na formação e gestão de seus governos, que envolvem negociações políticas e muitas vezes favorecimentos pessoais, estes sim, criminosos. E, além mais, nada têm a ver com o processo.

Outros bateram na tecla de que ela seria a responsável pela crise econômica que dizem reinar no país, também fugindo das acusações que geraram o processo contra Dilma. Entrando, pois, na esfera das suposições, passando longe da realidade.

Neste tema, porém, foram rebatidos com firmeza pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que apresentou números demonstrando como exemplo o excelente desempenho do setor agropecuário nos últimos anos, fruto de políticas do governo federal.

Kátia, que em tese seria um voto a favor do relatório aprovado pela comissão, votou contra. Outro voto destoante, embora já esperado, foi o do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que se posicionou a favor da continuidade do processo de impeachment.

A sessão do Senado durou menos do que o previsto, pois foi resumida por ações dos golpistas, que pretendem encurtar a última etapa do processo, contando com o empenho do ministro Lewandowsky neste sentido.

Assim, tudo indica que agosto entrará na História também como o mês de um golpe contra a democracia no Brasil.

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