Nossa elite é pior

O golpe político-institucional, como chamam o golpe de Estado em curso no Brasil, demonstra o caráter de nossas elites. Em pleno Século 21, persiste nela a visão coronelista, pré-capitalista, avessa a qualquer avanço social, que pelo menos reduza as desigualdades.

A melhoria da qualidade de vida geral da população a essa gente significa perigosa ameaça ao minguado poder que detém, submisso a outros interesses como no Brasil colonial. Nossa História é repleta de exemplos de como essa constatação é verdadeira. 

Já na Independência, nos deparamos com atitudes reacionárias que por pouco não nos mantiveram na condição de colônia. É o caso do regime escravagista, por exemplo. Já havia clima político e condições práticas pra darmos fim do mando português, mas essa questão emperrou o processo.
No Brasil independente previsto por Pedro I, como se sabe, não haveria mais escravos. Esse foi o tema decisivo na viagem que ele fez a São Paulo, pra assegurar o apoio das oligarquias locais ao processo já em curso que acabaria com a submissão à corte de Lisboa.

Poderia o imperador dar seguimento aos seus planos, disseram as principais lideranças das elites paulistas, mas desde que ele retirasse da sua pauta a abolição da escravatura. A condição imposta impediu, portanto, que a independência conquistada beneficiasse toda a sociedade tupiniquim, inclusive o escravo negro.

Desta forma, fizeram com que o regime escravocrata, que ainda hoje nos envergonha, fosse mantido por mais de seis décadas adiante. E mesmo assim, contra a vontade de muitos, a ponto de influenciar no processo de Proclamação da República, como nos contam muitos historiadores.

Resguardadas as proporções, é algo parecido com o que ocorre hoje. Esse mesmo sentimento de apego absoluto ao poder se reflete no pavor que amplos setores das nossas elites têm das políticas sociais, de redução da desigualdade, como as implantadas a partir da ascensão de Lula ao poder.

É essa mesma elite, corrupta por tradição, que no momento presente se apega a um suposto combate à corrupção pra consolidar mais um golpe. E, como de costume também, contando com resoluto apoio do Poder Judiciário, que age no sentido de dar plena cobertura ao governo interino de Temer, sabidamente apinhado de corruptos.

Uma vez mais, também, este governo golpista encontra respaldo em grande parte da classe média. E, pelas medidas que vem adotando ou planejando tomar, irá promover enorme atraso no progresso de nossa sociedade, fato reconhecido mundialmente.

Boa parte das elites de outros países mantêm uma postura crítica ao processo que por aqui se passa, pelo seu caráter antidemocrático e retrógrado. Ou seja, nossa elite consegue ser pior que suas congêneres mundo afora.

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