Sessenta e nove dias de Golpe: Temer ganha perdendo!

Às vezes se ganha perdendo ou se perde ganhando. A eleição de Rodrigo Maia (DEM, RJ) para o “mandato tampão” da presidência da Câmara dos Deputados representa esse paradoxo em relação ao “governo” Michel Temer e, também, às forças progressistas.

A renúncia de Eduardo Cunha (PMDB, RJ) à presidência da Câmara dos Deputados abriu uma guerra surda na base de Temer para saber quem presidiria o mandato tampão. Nessas horas o aliado de ontem vira o inimigo do presente. E nessa disputa não seria diferente. A base de Temer se espatifou em várias candidaturas, indo do chamado “centrão” ao grupo de maior nitidez ideológica neoliberal.

O governo, oficiosamente, bancou a candidatura de Rogério Rosso (PSD, DF), representante do “centrão”, que contava com o apoio ostensivo de Eduardo Cunha e com quem Temer havia se comprometido em troca de sua renúncia à presidência da Câmara dos Deputados.

A renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara foi negociada pelo próprio Michel Temer em troca de votos para evitar a cassação de seu mandato e de apoio para que ele continuasse presidindo a Câmara através de um preposto do “centrão”.

Eduardo Cunha e Temer, então, escalaram para essas missões dois deputados do chamado “centrão”: Ronaldo Fonseca (PROS, DF) e Rogério Rosso (PSD, DF), que já havia se prestado ao deplorável papel de presidir a farsa do impeachment na Câmara.

Cabia a Ronaldo elaborar um parecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que na prática inviabilizaria a decisão do Conselho de Ética, tomada após oito meses de manobras protelatórias da “tropa de choque” de Cunha. Enquanto Rosso ficava com a missão de presidir a Câmara e manobrar para que Cunha não fosse cassado, o que poderia ser viabilizado com a votação num dia de quórum baixo, na medida em que o acusado para ser absolvido não precisa ter um único voto a seu favor, basta evitar que haja 257 votos contra.

Como se vê a manobra estava perfeita. Mas não contavam com o imponderável. Ronaldo Fonseca, após ser agraciado com nomeações de cargos no “governo” Temer entregou a mercadoria: um parecer de acordo com os interesses de cunha, mas a CCJ sepultou por 48 a 12. E Rosso naufragou por 285 a 170 na sua tentativa de presidir a Câmara e a sessão salvadora de Cunha, que agora caminha para a cassação tomado pelo ódio, pelo ressentimento e pela vindita. É uma bomba explosiva, capaz de estragos maiores do que as gravações de Sergio Machado, que, aliás, nunca mais se ouviu falar.

É uma derrota acachapante para o “governo”, não resta dúvida; mas é também uma vitória, na medida em que se livra de um chantagista e ganha alguém efetivamente comprometido com a tese de estado mínimo que ele pretende executar.

Mas nós também ganhamos perdendo. Ganhamos ao impor uma derrota ao candidato oficial de Temer e, consequentemente, ao explorar as contradições dos golpistas. E perdemos ao colocar no comando da câmara dos deputados alguém com maior compromisso ideológico com o projeto neoliberal e sua governabilidade.

E qual é o balanço? A má disfarçada ira de Rogério Rosso e as declarações raivosas de Eduardo Cunha, acusando o “governo” de ter lhe traído e insinuando ameaças, deixa claro que no geral nós ganhamos mais do que perdemos e, por consequência, os golpistas perderam mais do que ganharam. Esse é o ponto.

Do ponto de vista tático, esse tipo de disputa sempre provoca esgarçamento e por mais que a classe dominante sempre encontre meios de contornar os conflitos mais evidentes, jamais a coesão será a mesma. Explorar as contradições do adversário é uma das premissas da luta de classes e da luta política cotidiana, por mais que elas indiquem certo paradoxo e até mesmo aparente contradição.

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