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O resultado das pesquisas de intenções de votos para as eleições rumo a Prefeitura de São Paulo não autoriza a ninguém a cravar um resultado. Mas é evidente que sinaliza tendências importantes e problemas de difíceis, embora não impossíveis, soluções.

O caráter comumente atípico a todos os pleitos tem neste ano um cenário de crise profunda na imagem do PT, tido e havido como o maior partido de esquerda da AL, um processo de impeachment de uma presidente que, embora não tenha amplo respaldo popular, tem uma base de apoio, pequena, mas organizada, consistente e barulhenta a resistir. E, o que é pior (ou melhor), ocorre, como nunca antes na história do país, uma campanha em que está no centro a questão da corrupção, com a operação lava jato dilapidando patrimônio moral e eleitoral de nomes da esquerda à direita em nosso país. A população no geral assimilou por fim, embora temporariamente, a ideia que todos os políticos são iguais e roubam sistematicamente. Essa conjuntura gera um descrédito, desalento e por vezes revolta nos eleitores que pode gerar um número de abstenções, votos brancos e nulos recordes. Se isso ocorrer poderá gerar a mais cruel distorção no resultado eleitoral desde 1986.

Mas voltando as pesquisas. Divulgadas a exaustão pelo Datafolha a pesquisa envolvendo a cidade de São Paulo registra este momento complexo em que vivemos. Eivada de dinamismo a vida política da cidade permiti-nos dizer que nada é definitivo a menos de três meses para o dia da eleição.
Eleição mais curta do que as anteriores onde até hoje não se sabe, os que não são ricos, como arrecadar e se podem arrecadar. Talvez a questão do financiamento seja o obstáculo mais difícil para candidatos não ricos transporem.

O fato é que em primeiro está o Deputado Federal Celso Russomano, do PRB, beneficiado pelo recall da eleição anterior e pela extraordinária votação obtida em 2014, o candidato é único que ultrapassa os 19.05% dos que, dizem, irão votar branco/nulo/abster. Mas ocorre que sua candidatura está meio que sub judice. Acusado de peculato, num evidente “exagero” judicial do TER, corre o risco de ter sua candidatura cassada e assim ser impedido de tentar. Enquanto isso o seu próprio partido o PRB espalha boatos de que se isso ocorrer fecharia com o Dória do PSDB. O tucano rico e anabolizado pelo governador do estado de São Paulo que amealhou diversos partidos para a coligação do seu candidato e seu partido que enfrentou uma forte defecção com o Andrea Matarazzo, cujo correligionários acusam o empresário “personalitê” de ter comprado votos dos filiados “penosos” na convenção ao custo de R$ 5.000,00.

Pela esquerda surge a candidatura da Luiza Erundina, incentivada pela Folha de São Paulo, com o mesmo discurso do PT da década de 1980, criticando alianças, a esquerda tradicional e brandindo a combalida espada da moralidade, segurada com competência pela direita reacionária atual. Com 10 pontos na pesquisa fica á frente do Haddad e seus eleitores por incrível que pareça tem um forte grau de intersecção com os eleitores do Dória (PSDB).

A Marta Suplicy, candidata recém ingressa no PMDB, pontua bem, chega inclusive a ficar a frente com 21% das intenções num cenário sem Russomano. Mas a impressão que passa é que sua campanha carece de identidade. Saiu do PT, mas é evidente que o PT ainda não saiu dela. Ao fica criticando duramente o PT, deverá ter explorada pelos seus adversários tais destemperos. Assim é provável que a periferia, o que resta de petismo por lá, ao saber que ela não está mais no PT tenda a se afastar. Se a velocidade for superior á sua capacidade de atração, pode sofrer uma desidratação.

Como a impressão que ela passa é estar de “salto alto” se não corrigir pode levar um tombo feio.
O Prefeito Haddad, no momento atual, entre os candidatos com chances, é o qual aparenta ter mais dificuldades. Sua gestão aclamada pela crítica petista e simpatizantes pelas redes sociais tem sido na vida real, longe do Facebook, pessimamente avaliada. Paga um preço caro por negar a política.

Disputou e ganhou uma eleição duríssima contra o tucano Serra em 2012 mas, provavelmente, até hoje não saiba direito o que fez ele ser vitorioso. Intelectual de esquerda procurou introduzir uma cartesiana forma de administrar em que a aparência vale mais do que o conteúdo, embora se esmere em dizer o contrário. As suas políticas públicas principais dizem respeito a tal “mobilidade urbana” que hipnotiza os incautos e recheia argumentos extraterrestres que habitam as reuniões dos que os apoia incondicionalmente. Não que seja um mal gestor, mas a sua gestão não é nada boa. Avaliada como positiva por apenas 14% dos entrevistados só supera o Celso Pitta que tinha sete por cento, mas sequer tentou a reeleição. Ciclo vias, a abertura da Paulista aos domingos, cinema nos CÉUS, medidas boas, mas que não resolvem os problemas de ninguém, são assim sentidas pela população. Por exemplo, saúde é um desastre, segundo as pesquisas, 79% acham que ele faz menos do que o esperado.

Sem o prestigio do Lula, sem a força do PT, sem ser mais novidade e com esses índices de avaliação será preciso criar fatos e muitos fatos novos positivos para engrenar. Os estrategistas de gabinetes, sempre eles, desenvolvem uma tese, entre tantas, que os movimentos sociais podem levar o Haddad ao segundo turno. Como esses “movimentos” são mais corporações do que populações acho difícil a situação do alcaide.

Enquanto isso a “República de Curitiba” estimula e aguarda ansiosa a delação mais ou menos premiada do marqueteiro João Santana. Vem mais coisa por aí?

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