Seis dias de Golpe!

Havia uma aposta surda nos bastidores da política sobre qual seria o comportamento de Temer nesse “1º tempo do golpe”. Faria mediações, buscando equilibrar as demandas do movimento social com as exigências da classe dominante que patrocinou o golpe, ou adotaria prioritariamente a pauta do patronato da Fiesp, os novos donos do “governo”?

Não foi preciso esperar muito. Em 6 dias de “governo”, Temer e seus 12 ministros envolvidos na lava jato já fizeram tantas ameaças à democracia e aos direitos sociais que os ditadores de 64 devem estar com inveja.

Certa vez me perguntaram se era possível um padre deixar de rezar. Respondi que sim, desde que ele se transformasse noutra pessoa e não apenas abandonasse os votos de sacerdote. A mesma regra vale para a direita, que sempre se orientou pela violência, pelo desprezo à democracia, pela repressão aos movimentos populares e pela obsessão de suprimir direitos trabalhistas e sociais.

Um governo de direita que não segue essa “receita” se converteu “noutra coisa”. Não é o caso Temer, que segue à risca esse “manual”, como evidenciam as primeiras medidas anunciadas por sua equipe da “lava jato”.

O primeiro recado veio de fora do “governo” oficial, mas do governo de fato, de um banqueiro. Sem meias palavras sapecou: “não bastam palavras e sim fatos”, exigindo que Temer entregue a fatura de arrocho aos trabalhadores e de mais vantagens ao “mercado”, conforme havia se comprometido nos preparativos do golpe.

Depois seus ministros, como que numa competição para mensurar quem está mais afinado com os novos donos do governo, desfilaram um amontoado de barbaridades. É ilustrativo analisar o que já anunciaram:

Relações exteriores. Por fim ao Mercosul, secundarizar o Brics, hostilizar os países pejorativamente chamados de “bolivarianos” e voltar ao velho servilismo dos Estados Unidos da América.

Justiça e Segurança Institucional. A frase “nenhum direito é absoluto” diz tudo. Serve para justificar a supressão de qualquer direito, mas especialmente ele afirma que a indicação do chefe do Ministério Público não respeitará o critério do mais votado, como foi adotado por Lula e Dilma, e tampouco haverá tolerância com manifestações. Coerente, pois como sustenta o brasilianista Timothy Power (Universidade Oxford, Inglaterra), “é difícil uma agenda conservadora crescer sem se associar à ditatura militar”. O Ministro da Segurança Institucional, cujo pai está associado à repressão e tortura no período da ditadura militar, considera que “a comissão da verdade é patética”.

Direitos sociais. Começam com a reforma da previdência, ameaçando aumentar a idade mínima para aposentadoria, um velho sonho do mercado. Avançam sustentando que “ninguém vai ficar mais miserável se houver alguma redução no programa bolsa família”. E concluem com o ministro da Saúde afirmando que “o Sistema Único de Saúde (SUS) precisa ser revisto”. Sem mencionar que o Ministério da Educação foi entregue ao DEM, partido que ingressou com ações judiciais contra o PROUNI e a política de cotas na educação. O que eventualmente estava ruim, tende a ficar trágico.

A área econômica. A indicação de operadores do mercado, de orientação privatista, para chefiar o Banco Central, BNDES, Petrobras, dentre outras instituições, deixa claro que o PSDB, de triste memória, voltou – sem ganhar eleições – ao comando da economia.

A "crise" atual poderia ser chamada de resfriado, se comparada com a infecção generalizada da era FHC/PSDB (1994-2002), decorrente da execução econômica deles. Por isso mesmo o povo, pelo voto, os derrotou em quatro eleições consecutivas, levando-os a apelar para o golpe, como sempre fizeram ao longo da história.

Como é fácil concluir, o golpe foi para interromper um projeto que, embora com limitações, vinha distribuindo rendas e ampliando direitos sociais. E substituí-lo pelo projeto de regressão e privatização que vinha sendo encaminhado por FHC/PSDB, que destruiu o país em todos os seus fundamentos.

O golpe atual, portanto, é para interromper esse projeto de reafirmação da nação e voltar a aplicar o projeto neoliberal, ou seja, acabar ou restringir direitos sociais, reprimir trabalhadores e tentar concluir o ciclo de privatizações interrompidas, especialmente da Petrobras, dos bancos públicos (Brasil, Caixa Econômica) e do o sistema elétrico.

Tudo indica que Temer e seus “lava jato” adotarão a máxima de Maquiavel, para quem “o ideal do príncipe era ser amado e temido pelo povo”, mas, sustentava, “como quem é amado não pode ser temido é melhor ficar com a segunda opção”. E tome repressão e desmonte do país!

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