Prenúncio de grandes batalhas

No Senado, à revelia da verdade dos fatos, da norma constitucional e da opinião pública internacional e da crescente rejeição do povo brasileiro, o processo de impeachment avança.

No Palácio do Jaburu, convertido em sede da trama golpista, o pretenso futuro presidente Temer negocia celeremente a partilha de cargos e dá contornos nítidos à agenda regressiva que pretende implementar de imediato, apoiado na maioria parlamentar e no complexo midiático.

A presidenta Dilma, em sucessivos pronunciamentos, levanta voz altiva contra o golpe e se converte num símbolo da resistência democrática.

Temer, em vídeo gravado para a igreja do ultra-reacionário deputado pastor Feliciano, pede orações e promete “pacificar” o País.

Lances de um cenário cuja base objetiva é a tentativa de interromper o ciclo de transformações em curso desde o primeiro governo Lula.

É a regressão institucional e social.

Mas agora, passados quinze anos do término da “era FHC”, as condições sociais para a plena implantação do figurino neoliberal não são as mesmas.

Nesse lapso, o povo brasileiro experimentou a ascensão social – inclusão no mundo do trabalho e no mercado de consumo de bens duráveis e acesso aos aparelhos formadores de recursos humanos – jamais vistos em nossa História.

Também experimentou um padrão democrático nas relações entre os movimentos sociais e o governo, seja pela descriminalização dos movimentos, seja pelo sistema de Conferências setoriais que permitiram a mais de dois milhões de representantes, desde a base municipal, debater e influir na formulação de polícias públicas.

Viu o Brasil respeitado na cena internacional.

Percebeu a possibilidade de um dos seus, o operário metalúrgico Lula, ocupar o mais alto cargo da Nação e liderar mudanças em favor da maioria.

Mostrou-se perplexo e indignado diante de tantos casos de corrupção, agora incluindo gente ligada direta ou indiretamente ao governo, porém aos poucos vai vislumbrando o caráter assimétrico e partidário do combate à corrupção pelos órgãos de controle e pela mídia.

Há, enfim, em grande medida, uma “consciência política espontânea” relativamente elevada, bem díspar em relação à que constatara Lênin em finais do século 19 e início do século 20.

Os senhores da “casa grande”, em sua ânsia regressiva, não medem as consequências do que agora fazem, subestimando a força que emergirá da “senzala” no desdobramento do impeachment e da execução da agenda Temer.

Ampla parcela da população aparentemente alheia ao que se passa e presente nas pesquisas como insatisfeita com o governo e desejosa de mudança, dificilmente quedará insensível ao apelo dos movimentos organizados. Reagirá em defesa das conquistas recém-alcançadas.

Lutas de grande envergadura virão.

Um tempo novo – a exigir das forças políticas mais consequentes, onde pontifica o PCdoB, descortino, garra, firmeza e ao mesmo tempo amplitude e flexibilidade tática para explorar divisões entre os “vitoriosos” de agora e reforçar a base popular da resistência.

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