O perigo do liberalismo neopentecostal

Desde o último dia 17 de Abril, em que a maior parte dos deputados federais votou pelo impedimento da presidenta Dilma com os mais diversos argumentos, em especial a defesa da família e de Deus, comecei a observar algo que já me chamava atenção, mas que não tinha tido tempo de refletir com calma: o perigo das bancadas fundamentalistas.

Não é segredo para ninguém que o estado brasileiro é (ou deveria ser) laico. Entretanto esta mistura religiosa que tem aumentado cada vez mais na câmara federal principalmente, nos faz relembrar tempos fatídicos do passado onde a fé guiava o estado, como a Idade Média, curiosamente chamada de Idade das Trevas, onde qualquer um que discordasse da Igreja era assassinado, torturado ou queimado.

Sem ir tanto tempo atrás à escala histórica, vimos um Afeganistão prosperante no fim da década de 1970 e, depois dos talibãs tomarem o poder com o auxílio militar estadunidense na década de 1980, este país se tornar um estado xenofóbico, intolerante, machista e homofóbico. O uso de burcas pelas mulheres por imposição da Igreja-Estado é um simples exemplo disso.

Uso de tais exemplos para repensarmos para onde está nos levando a tal “bancada da bíblia”, que, a meu ver, de religiosa não tem nada, basta ver as falas de seus membros ou como votam nas matérias dentro do parlamento.

Uma das bandeiras que mais se vê sendo difundida por muitos destes líderes messiânicos é a da tal teoria da prosperidade, ou seja, o dízimo e as orações deixam de ter um papel de agradecimento e fé para se tornar, literalmente, um fundo de investimento. Balizando-se de interpretações errôneas da bíblia para justificar esta exploração dos fiéis, fizeram com o que o livro sagrado dos cristãos se tornasse um manual de como vencer explorando o próximo, ou seja: usar a bíblia e a fé para justificar o ódio e o sistema de exploração da classe dominante.

Esta “teoria da prosperidade” é algo tão perigoso que ela é capaz, até de medir o grau de fé do sujeito, se ele doa muito e cresce de capital individual, significa que ele tem muita fé e está doando bastante. Entretanto, se a pessoa não cresce de posição no trabalho ou mesmo doa pouco dinheiro, ela está com pouca fé, não doa o suficiente para a Igreja, não ora o necessário, etc.

Com o argumento de um Deus temeroso diferente do que deveria ser o criador misericordioso, transformam a religiosidade dos fiéis em uma forma de não só ganhar dinheiro, mas de justificar os discursos de ódio e intolerância que temos visto e nos assustado a cada dia.

Alguns membros da bancada da fé como Eduardo Cunha e Marcos Feliciano são exemplos claro do que escrevi no parágrafo anterior, balizam-se do nome de Deus para justificar discursos inflamados contra negros, gays e mulheres.

Esta reflexão e entendimento de como se dá a justificativa destes falsos profetas é muito importante em um momento onde o Brasil todo se encontra dividido entre os prós Dilma e os contra Dilma, afinal de contas, parte da classe trabalhadora mais pobre é evangélica, escuta estes discursos da teoria da prosperidade todo dia em seus cultos passando a achar que o seu inimigo é exatamente quem mais fez por eles: os governos de centro esquerda liderados pelo PT.

A enorme votação de candidatos pastores na última eleição parlamentar é mais uma prova do retrocesso conservador que o país atravessa assim como líderes religiosos assumirem e dirigirem dois partidos médios que de simples legendas se tornaram literalmente a casa do cidadão reacionário: PSC e PRB. O PSC tem além de Feliciano, como principais líderes o Pastor Everaldo, Silas Malafaia e os Bolsonaros, que mesmo não sendo evangélicos, emplacam o mesmo tipo de discurso de ódio e intolerância dos demais. O caso do PRB é mais gritante, pois é o braço político da Igreja Universal, sendo seu principal líder o senador fluminense Marcelo Crivela.

A mistura de fé com estado, que antes parecia coisa do passado, ressurge com muito mais força, pois o neopentecostalismo, que surgiu com força na década de 1970, juntamente com a teoria da prosperidade (enriquecimento pela fé) e a defesa da propriedade privada se tornou um importante aliado dos neoliberais tucanos tradicionais do PSDB e do empresariado.

Se antes esta elite econômica não dialogava com os mais humildes, hoje com o auxílio de tais igrejas entra nas periferias e até nos presídios, sendo uma contraposição ideológica pesada ao discurso marxista de disputa de classes, defesa das minorias e universalização de direitos para todos. Curiosamente, as bandeiras que a esquerda historicamente trouxe.

Ao observarmos um aumento do debate conservador juntamente com a defesa do livre mercado, podemos afirmar com toda certeza que o trabalho neopentecostal liberal teve (e tem) um papel importante, afinal de contas levou para aqueles que deveriam enxergar que são explorados, o discurso do explorador, dificultando ainda mais a politização das massas trabalhadoras sobre seu papel importante na luta de classes.

Confundir o inimigo com o amigo é prática antiga dos setores dominantes para dividir o proletariado, até porque são eles que dominam os meios de comunicação de massa, mas levar este discurso disfarçado de fé é algo novo ainda em nosso país uma vez que esta corrente evangélica não tem nem 50 anos.

Saber identificar onde está perigo é tarefa fundamental dos marxistas, afinal de contas, ter fé em algo ou alguém não representa nada de mal, vai da livre escolha do sujeito, mas usar da fé do próximo para justificar um sistema desigual, ganhar votos e justificar o ódio jamais. Estes lobos disfarçados de ovelhas merecem não só ser desmascarados, mas relegados ao obscurantismo do esquecimento.

Para sempre!

Até a próxima.

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