Radicalização e amplitude em situação adversa

Agora no Senado, o processo de impeachment segue como vértice da tendência crescente à radicalização do conflito político. Em todas as suas dimensões – da frente parlamentar aos movimentos sociais.

Senadores, inclusive alguns de currículo até ontem respeitáveis, sem o menor pejo se antecipam favoráveis à admissibilidade do pedido de impeachment “por razões eminentemente políticas”.

Jogam à lama suas convicções democráticas e seu compromisso constitucional.

Enquanto isso, a frente reacionária liderada por Temer-Cunha e lastreada no aparato jurídico-policial e midiático, dá passos rápidos na montagem do que ironicamente chamam de “governo de salvação nacional” – uma agenda flagrantemente comprometida com o capital rentista e com interesses corporativos contidos nas bancadas parlamentares mais retrógradas, que votaram pelo golpe na Câmara dos Deputados.

Prenunciam-se – no caso de um eventual governo Temer -, um arrocho fiscal muito mais severo do que o pretendido pelo governo Dilma, combinado com a manutenção da política de juros elevados e ampliação da carga tributária. A economia seria “normalizada”, porém pela via da regressão de direitos, do agravamento das condições de existência da maioria, da maior concentração da renda, da riqueza e da capacidade de investimento e do aprofundamento da recessão.

No mundo real, digamos assim, segue se ampliando a consciência de que o Brasil está diante de um golpe parlamentar-jurídico-midiático, com enorme repercussão crítica internacional. E uma tendência crescente à resistência democrática, a um só tempo popular (assentada no mundo do trabalho e na juventude) e ampla (envolvendo setores os mais diversos da intelectualidade, dos meios jurídicos, da academia e do mundo da cultura).

Concomitantemente, sondagens eleitorais revelam a força de Lula (e de tudo o que ele representa no imaginário popular) e a fragilidade eleitoral do consórcio PMDB-PSDB-DEM.

O que leva a crer que o embate de agora, qualquer que seja o resultado da votação do impeachment pelo Senado e, sobretudo, se favorável ao golpe, se prolongará por tempo imprevisto, tendo no meio do caminho as eleições municipais e o pleito presidencial de 2018.

Nesse cenário, às forças mais consentes – entre as quais, destacadamente, o PCdoB, mercê do protagonismo conquistado -, cabe contribuir para o fortalecimento da ampla frente pela democracia e impulsionar, no âmbito dela, o ímpeto combativo dos movimentos sociais; e, ao mesmo tempo, não arrefecer esforços na construção de “pontes” com setores vacilantes, confusos ou equivocados, de onde poderão surgir dissidências para o campo democrático.

Isto numa correlação de forças evidentemente desfavorável, apesar da justeza de nossas bandeiras e do caráter francamente reacionário do golpe.

Há uma imensa parcela da população – envolta na perplexidade decorrente da crise e potencialmente disposta a reagir às ameaças às conquistas obtidas nos governos Lula-Dilma -, alvo de disputa pelos dois polos do conflito, cuja abordagem implica desconstrução da narrativa midiática golpista e habilidade para despertá-la para a resistência.

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