Comunistas uruguaios e brasileiros condenam golpe de Estado no Brasil

No último sábado (23), com o ginásio de esportes do Clube Platense superlotado, realizou-se em Montevidéu o ato público em homenagem aos 44 anos do assassinato dos oito operários comunistas na Seccional 20 do Partido Comunista do Uruguai (PCU), em Paso Molino, no dia 17 de abril de 1972.

Como ocorre todos os anos, mesmo durante a vigência da ditadura, o PCU e a União da Juventude Comunista (UJC) homenagearam Luis Alberto Mendiola, Raúl Gancio, Elman Fernández, Justo Sena, Ricardo González, José Abreu, Ruben López e Héctor Cervelli.

O ato deste ano se realizou sob o lema: “Passado e presente para construir o futuro”.

A atividade teve um forte conteúdo de solidariedade com os uruguaios desalojados pelas inundações e chuvas em todo o país. Foram coletados mais de 200 quilos de alimentos, além de produtos de limpeza. Um dos momentos emocionantes do ato foi quando se recebeu a saudação dos companheiros que estão nas Brigadas Agustín Pedroza, da central sindical PIT-CNT e da Federação dos Estudantes, que estão ajudando na reconstrução de Dolores e em todas as regiões afetadas.

O ato também foi expressão da solidariedade com o povo brasileiro e sua luta pela democracia e contra o golpe. Uma enorme bandeira do Brasil em que estava escrita em português a palavra de ordem “Vai ter luta”, cobria quase totalmente uma das paredes do ginásio de esportes do Platense.

Estiveram presentes delegações de todos os setores da Frente Ampla, dirigentes sindicais, de organizações de Direitos Humanos e estudantis, autoridades do governo nacional e locais, vereadores e prefeitos.

Destacam-se as presenças de José Bayardi e Javier Miranda, candidatos à presidência da Frente Ampla, assim como do deputado e candidato único à presidência da Frente Ampla em Montevidéu, Carlos Varela.

No ato fizeram uso da palavra o senador Rafael Michelini, em nome da Frente Ampla; Lucía Ubal, secretária de Organização da UJC, em nome dos e das jovens comunistas; Roberto Conde, candidato à presidência da Frente Ampla apoiado pelo PCU, e Gabriel Molina, pelo PCU.

Tive a honra de, na condição de "convidado especial", representar o Partido Comunista do Brasil.
As forças políticas progressistas uruguaias têm manifestado intensamente a solidariedade ao povo brasileiro na luta contra o golpe de Estado, por meio de pronunciamentos oficiais do Partido Comunista, da Frente Ampla e da Chancelaria.

Publico em seguida uma síntese do pronunciamento que fiz em nome dos comunistas brasileiros.

“Em nome do Partido Comunista do Brasil, trazemos uma calorosa saudação aos comunistas e frenteamplistas uruguaios, quando se comemora o 44º aniversário da trágica noite de 17 de abril de 1972, quando tropas policiais e militares fuzilaram de maneira covarde oito operários, alguns pelas costas. Foram crimes cometidos contra oito militantes comunistas e frenteamplistas.

“Nosso Partido, irmanado com vocês na luta pelos mesmos ideais pelos quais caíram os companheiros, junta-se a vocês nesta homenagem. Recordamos com repeito, admiração e reverência os camaradas Luis Alberto Mendiola, Raúl Gancio, Elman Fernández, Justo Sena, Ricardo González, José Abreu , Ruben Lopez y Hector Cervelli. Glória eterna!” – disse José Reinaldo.

“Estes companheiros foram vítimas do terrorismo de Estado, a que reorrem os reacionários, os fascistas, os sicários a serviço das classes dominantes e do imperialismo para aniquilar os que lutam por uma sociedade livre da opressão e da exploração, uma sociedade de justiça, de progresso para todos, liberdade, soberania e socialismo. Sociedade pela qual seguimos lutando todos nós, no Uruguai, no Brasil e em todo o mundo”, acrescentou.

Na sequência, opinei que uma parte importante desses ideais se concretiza “nas experiências dos governos progressistas em toda a América Latina, na Cuba socialista de Fidel e Raúl, na Venezuela bolivariana e chavista, no Uruguai da Frente Ampla e no Brasil de Lula e Dilma”.

Vai ter luta

Denunciei com veemência o golpe em curso no Brasil: “Agora, na nova etapa da luta política nos planos internacional e latino-americano, o imperialismo e as oligarquias inovam seus métodos e inventam o novo tipo de golpe de Estado. Trata-se do golpe de Estado parlamentar, judicial e midiático como o que se desenrola no Brasil. A sessão da Câmara dos Deputados, que sob a direção de um presidente corrupto e truculento e com uma maioria de reacionários golpistas aprovou a admissibilidade da destituição da presidenta Dilma, revelou a extensão, a amplitude, a profundidade e a força da direita no Brasil, que desfere um golpe de Estado em conformidade com os interesses da burguesia monopolista-financeira, dos proprietários dos grandes meios de comunicação, do imperialismo e do capital financeiro internacional”.

Referi-me à sessão legislativa de 17 de abril como um “circo de horrores”, em que “se desvelou uma maioria que enxovalha o parlamento brasileiro e envergonha o país, uma maioria mal-educada, inculta, desprovida de decoro e respeito, degenerada e corrompida, a ponto de haver quem homenageasse o oficial do Exército que torturou a presidenta Dilma quando era uma jovem militante revolucionária, e outros que se manifestaram com expressões de deboche”.

Expliquei aos camaradas uruguaios que “a presidenta Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade, não havendo justificativa cabível para seu julgamento político e destituição, está havendo uma deturpação total das diposições constitucionais sobre o instituto do impeachment”.

Expliquei ainda que a atual crise política brasileira tem como origem mais imediata o fato de que “a oposição neoliberal e conservadora não aceitou a quarta derrota consecutiva na última eleição presidencial de outubro de 2014, tomando a decisão política de deter o ciclo progressstva aberto no país desde a primeira eleição de Lula em 2002, período em que apesar de insuficiências, erros e contradições, o país avançou na realização de importantes mudanças políticas e sociais e contribuiu enormemente para a integração soberana da América Latina, para a luta por uma nova ordem econômica e politica internacional e pela paz mundial”.

Convencido que não nos devemos restringir às circunstâncias imediatas para não cair no taticismo, afirmei: “Vista desde uma perspectiva mais ampla, a crise política atual é também a expressão das contradições estruturais e dos profundos conflitos sociais e políticos da sociedade brasileira. É a expressão da luta entre dois caminhos, da encruzilhada histórica do país. O caminho que poderia conduzir o Brasil para estabelecer-se como um Estado democrático, independente, progressista e socialmente justo, em antagonismo com o que conduz à manutenção dos privilégios da classe dominante, da dependência aos potentados internacionais, e da vigência de um poder político antidemocrático”.

Assinalando que a ofensiva golpista no Brasil ocorre no contexto latino-americano, em que está em curso uma investida de caráter neoliberal e conservador para reverter as conquistas democráticas e soberanistas que foram obtidas na região nos últimos anos, deixei claro que as forças progressistas brasileiras lutarão até o fim para defender o mandato da presidenta Dilma, nas ruas, no Senado e nos órgãos judiciais.

Mostrei aos camaradas uruguaios que na eventualidade da deposição do governo Dilma e da formação de um novo governo chefiado pelo vice-presidente Michel Temer, “que se comporta como traidor da Constituição, conspirador e golpista”, a instabilidade política se agravará. “Será um governo ilegítimo, de traição nacional, com tendências autoritárias, antissocial e anti-operário, comprometido com uma plataforma que visa a promover uma contrarreforma do Estado brasileiro de sentido reacionário, à liquidação das conquistas sociais, da soberania nacional e da integração latino-americana.

Por fim, dei uma informação que animou o público garantindo que “nesse caso, haverá luta aberta, ampla, enérgica, inconciliável por parte dos comunistas e das forças progressistas”. “Em qualquer cenário, o Brasil viverá situações tempestuosas, o que exigirá a lucidez, a perspicácia, a amplitude e o espírito de resistência e luta dos partidos de esquerda, das forças progressistas e do movimento social. O PCdoB considera que a batalha política em curso tem sentido estratégico, e exercerá forte impacto na luta dos trabalhadores e do povo brasileiro, assim como em toda a América Latina”.

Agradecendo “do fundo do coração” a solidariedade dos comunistas e frenteamplistas, anunciei uma novidade que muito agradou os uruguaios, que fazem da unidade das forças progressistas o seu principal trunfo na luta democrática e anti-imperialista: a criação da Frente Brasil Popular, que já se coloca à frente da “ampla e intensa resistência democrática, organizando poderosas manifestações, o que nos dá confiança em que na nova etapa da luta política e de massas no Brasil, o povo brasileiro irá avançar e enfrentará os novos desafios”.

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