Trair e coçar é só começar!

O espetáculo grotesco ocorrido na Câmara dos Deputados, transmitido para o mundo, por ocasião da votação da admissibilidade do pedido do impeachment, por fim aceito, ainda ecoa! Afinal o desfile de “argumentos” dos parlamentares que, ao microfone, vociferavam a pleno pulmões seus “motivos”. Seria cômico se não fosse trágico. Conduzido por um gangster como bem disse um Deputado carioca do PSOL o desfecho era esperado.

Num cenário em que se avolumam fatos estranhos e declarações mais estranhas ainda a luta contra o processo agora admitido e instalado segue no Senado. Antes tido como favorável à manutenção da Presidente no governo hoje qualquer analista sério entende ser próximo de zero as chances para reverter o quadro.

Nos dias que se seguiram ao desfecho da citada votação a luta se acirrou ainda mais. O governo e seus apoiadores concentraram desta feita ataques ao vice Michel Temer que, ao que tudo indica, deixou seu aparente estilo reservado, para assumir suas ambições e chegar à Presidência por um atalho. Algo que todos nós sabemos jamais conseguiria pelo voto. O PMDB não tem e nem nunca teve unidade suficiente para lograr êxito numa campanha nacional como a eleição presidencial. A cristianização, como bem lembrou o Ulisses Guimarães, uma das vítimas da natureza do partido.

As entrevistas do vice, suas declarações e as informações de que já estaria montado o seu “governo” e, que não é de hoje, convidando personalidades, além de esboçar um programa vazado estranhamente pelo wahtsapp.

Mas o que mais me chama a atenção é a batalha retórica através da mídia que não para. É golpe ou não é golpe? Juristas de parte a parte arrolam argumentos técnicos e subjetivos para defender ou atacar conforme o ponto de vista do entrevistado. Mas é óbvio que quando se fala em golpe, os que defendem o Estado Democrático de Direito, se referem ao conteúdo e não a forma. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, Dias Tofolli e Cármen Lucia, apressam-se em responder que não há golpe em curso no país. Num brutal esforço de retórica um dos citados acima diz: “o procedimento destinado a apurar a responsabilidade da senhora presidente da República respeitou (sic) todas as formulas estabelecidas na constituição”.

O colunista da Folha de São Paulo, Jânio de Freitas, responde a isso de forma magistral: “. Mas o golpe não está na forma, está na essência, no argumento, que apenas vale de forma. E este argumento consiste em, de repente, considerar crime, para efetivar um impeachment, uma prática financeira aceita em governos anteriores e em atuais governos de Estados. Um casuísmo, portanto, um expediente oportunista.”

O que parece evidente é que parte do STF “comprou” a posição a favor do impeachment e fica ainda mais nítido quando sabemos que o Ministro, militante de carteirinha, cara de pau, colorido e tucano, Gilmar Mendes, articula, a luz do dia, uma trama para separar no STE o processo sobre as contas da campanha da chapa Dilma/Temer. Assim, com um processo para cada, Temer seria absolvido e a Dilma, evidentemente cassada. Portanto insatisfeito com um golpe, prepara outro, tudo sob a retórica da constitucionalidade.

Considerando as circunstâncias e os fatos atuais, urge a presidente as forças que a apoia, ver que passos deverão ser dados. As palavras de ordens têm um tempo histórico que deve ser respeitado. Ao contrário cairão no descrédito e se transformarão em palavras ocas e vazias, tonitruantes. É preciso analisar com a razão mesmo que a revolta seja inevitável. Não há quase nenhuma chance de obter uma vitória no Senado. O que fazer se o Senado aceitar a decisão da Câmara? Continuar dizendo que é Golpe? Sair mobilizando gente contra o Temer? Mesmo sabendo que se o Temer sair, o Cunha será o Sucessor? E se o Presidente da Câmara cair quem assumirá será o Presidente do STF?

É preciso fazer esforços para enxergar mais longe, só há, penso eu, duas opções: Ou “respeita” a decisão do Senado, se for desfavorável e mantém no parlamento e nas ruas posições vigilantes sobre o Temer visando garantir as pequenas conquistas obtidas a duras penas. Fazendo oposição ás medidas contrárias aos interesses do povo que por ventura, o vice venha a tomar. Acumulando forças para a disputa presidencial de 2018. Buscando formar uma grande frente nucleada pela esquerda com um programa autocrítico avançado, sem “hegemonismo” artificiais do PT ou de quem quer que seja e sem vínculos com práticas nefastas de financiamentos espúrios de partidos e de governos. O Lula ajudaria muito se dissesse que não seria candidato, já teve seus oito anos e agora tem que ter a grandeza de ajudar o Brasil de outra forma.

Ou defender eleições em outubro agora. Mesmo que tal medida, ao meu ver, favoreça as forças que se posicionam a direita do espectro político. Seria uma proposta consequente dada as circunstâncias. Dilma não renunciaria e reconheceria que, diante da crise de governabilidade, só mesmo eleições, no caso, diretas, para recolocar o país no rumo. Neste caso o Lula seria um nome capaz de aglutinar forças mínimas para fazer uma campanha forte, também com autocrítica profunda. Com um programa radical e amplo que sepultasse definitivamente as lembranças da “Carta de Recife” que resgatasse a esperança e a confiança no povo e do povo.

Precisamos sair da armadilha em que entramos e vencer a aliança entre delatores (corruptos e corruptores) e torturadores que ameaçam o país e a nossa Democracia.

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