Por quê?

Por que chegamos até aqui? Como chegamos até aqui? Foram as perguntas que eu mais ouvi neste último fim de semana. Eram feitas por militantes, simpatizantes, gente com experiência e qualificação política e compreensão teórica razoáveis. Também feitas por curiosos e pessoas simples do povo. Num círculo de metalúrgicos do ABC, neste domingo (17) no Vale do Anhangabaú, ouvi e vi, que as reações ás mesmas perguntas eram emblemáticas: “precisamos analisar com responsabilidade”.

 Nós, a esquerda brasileira e talvez mundial, temos dificuldades de reconhecer nossos erros e nossas limitações. Num cenário em que toda a esquerda sai perdendo não se constrói uma unidade solida para resistir ao nítido avanço da direita. A máxima de que a esquerda não se une nem na cadeia continua presente. Infelizmente. Vi numa militância combativa, aguerrida e pontualmente esclarecidas reações diversas a mesma pergunta. Embora considero que seja impossível momentaneamente construir o consenso no diagnóstico necessário a ser feito, não vejo sinais dessa busca.

Não que seja simples consensual tão complexo objetivo. Mas o nosso papel, pelo menos o que eu acho, é de buscar analisar o processo e extrair ensinamentos que nos ajude em ações futuras. Sejam em pensamentos, palavras e, principalmente, obras!

Vejo entre as várias opiniões, algumas cuidadosas, como devem ser e outras taxativas e precipitadamente conclusivas. Sempre partindo, essas que eu ouvi, da crítica, por vezes justas, ao papel das elites e da direita que esperavam, segundo esta opinião, pacientemente à espreita para golpear a democracias e os nossos tímidos avanços. Os que assim pensam, destacam as manifestações de junho de 2013 como a causadora deste momento propício ao golpe. Respeito aos que pensam assim, contudo, considero simplificador em demasia. Atribuir o desfecho desastroso da luta contra o impeachment a manifestações que mais parece efeitos do que elemento desencadeador do processo.

Claro que pode ser um elemento a se considerar, contudo, penso que o problema central de estarmos prestes, me refiro à esquerda, mesmo o PT, sendo um partido do capitalismo, eu o vejo a esquerda e de esquerda, ainda está no terreno subjetivo.

Os erros do PT foram muitos e uma parte da esquerda também sucumbiu ao pragmatismo da chamada governabilidade proposta. Não se aproveitou os espaços governamentais temporários e provisórios para construir-se uma maioria política e popular em apoio as medidas corretas mas ainda bastantes insuficientes. As ações de governo e dos que dele participam com reais interesses em melhorar o país, deveriam, em minha opinião, considerar que tal presença no governo não seria eterna. Buscar inserir os trabalhadores e o povo na luta política não seria talvez, na dimensão necessária, antídoto, por si só. Mas ao menos teríamos um processo de resistência menos desigual.

Aproveitar a popularidade momentânea e procurar enfrentar problemas crônicos, não com propostas e medidas revolucionárias, pois as condições não estavam e nem estão postas, mas realizar reformas de caráter estruturante que pudessem enfrentar os gargalos do país no caminho de seu desenvolvimento. Isso poderia também, não ser suficiente, mas deveríamos ao menos ter tentado o certo. Do ponto de vista econômico, continuamos, no geral a política macro econômica iniciada pelo Collor/FHC cujo teor são: extrema dependência dos commodities, definir os recursos naturais como motor do nosso crescimento. E como diz o Mangabeira Unger: “democratizar a economia do lado da demanda sem democratização correspondente do lado da oferta”

Mas talvez o que mais o PT errou, foi ter tomado a manipulação crônica da coisa pública pelo interesse particular como autorização para jogar ao seu modo com as mesmas regras. Com isso, me parece, ter dado munição àqueles que, agarrados à acusação de crimes, não importando se reais ou supostos, e amplificados pela mídia se horrorizam de seu maior acerto, como também diz Professor Winisk: “ter esboçado, mesmo que de leve, mudar a cara da desigualdade brasileira.
Talvez o principal erro do Partido dos Trabalhadores, no governo foi subestimar ou não aceitar a luta de classes.

E esquecer que chegou ao governo alimentando um discurso da ética promovendo campanhas contra a corrupção que ceifou várias de suas lideranças e desconstruiu ao menos temporariamente sonhos de milhões.

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