O auge da desfaçatez golpista

Após fazer uma cruzada para impedir que a presidenta Dilma Rousseff nomeasse Lula como seu ministro, a direita acaba de criar a categoria de "doação legal mas oriunda de propina", numa demonstração de que a sua desfaçatez golpista passou de todos os limites.

Essas duas barbaridades expressam uma clara intromissão em assuntos da esfera privativa da presidência da república e uma grotesca manipulação política da prática de financiamento de campanha até então estabelecida.

Mas tais barbaridades não são fatos isolados. Somam-se a outras arbitrariedades e truculências da rotineira prática política da direita, dentre as quais destacamos: os vazamentos seletivos; as prisões por tempo indeterminado de pessoas que sequer foram julgadas quanto mais condenadas; os grampos em escritórios de advocacia; a "prisão" coercitiva do ex-presidente Lula e a criminosa divulgação de conversas privadas entre o ex-presidente e a presidenta Dilma Rousseff, deixando evidente que a presidenta também, criminosamente, estava grampeada.

Regras e leis para a direita são meras peças de ficção, especialmente quando contrariam seus interesses. Assim fizeram em todos os golpes que praticaram. No momento, como não dispõem das forças armadas para executar o golpe de estado – como dispuseram em 1964 – a direita precisa alimentar o caos através da conexão "lava-jato / mídia serviçal".

A tática é bastante simplória: manter as forças progressistas e especialmente a presidenta Dilma Rousseff sob ataque permanente, com o objetivo de colocar o movimento popular na defensiva e paralisar as ações do governo, o que contribui para retroalimentar a crise. Conseguem, ademais, desviar a atenção do caráter nefasto dos que lideram o movimento golpista, cujo expoente é Eduardo Cunha, que dispensa comentários.

Assim, o 1º braço dessa conexão (a lava-jato) cria os fatos ou boatos, especialmente através de delações encomendadas; e o 2º braço (meios de comunicação) se encarrega da espetacularização de tais boatos a partir de vazamentos seletivos criminosos e sistematicamente reiterados.

Por outro lado, essas delações estão se transformando em motivo de chacota nas mídias sociais e de preocupação entre os que têm respeito pelo estado democrático de direito, na medida em que vão assumindo contornos absolutamente banais, caricatos e abertamente ilegais.

A última novidade é a delação da construtora Andrade Gutierrez que criou a figura da "doação legal, mas oriunda de propina". A construtora mineira, que recebeu contratos bilionários em praticamente todos os governos instituídos nesse país, informa que fez doações legais para vários candidatos, inclusive para a campanha da presidenta Dilma Rousseff.

Assegura, porém, que apenas o dinheiro legalmente doado para a campanha da presidenta era oriundo de propina (sic)! Todos os demais recursos doados, incluindo as doações para o PSDB de Aécio, eram de origem absolutamente “limpa”. É um insulto à inteligência de qualquer pessoa que se conduza com um mínimo de imparcialidade.

O cinismo, a desfaçatez e o conteúdo de classe de tal assertiva não deixam dúvidas. Até mesmo o mais simplório contínuo de banco sabe que após uma empresa depositar seu dinheiro num banco é absolutamente impossível saber qual recurso é “limpo” ou “sujo”, o que leva a pérola da construtora mineira para a categoria do caricato.

O fato é tão surreal que não deveria sequer ser mencionado quanto mais comentado. Mas precisa ser analisado porque recebeu generosa cobertura dos meios de comunicação, especialmente da Folha de São Paulo – jornal que vem apelando pela renúncia presidencial, pois reconhece que não há base legal para o impeachment aberto por Eduardo Cunha contra a presidenta Dilma.

A quantidade de ilegalidades cometidas pela direita, associadas ao ódio de classe, parcialidades e truculências, fizeram com que a sociedade percebesse que se tratava de um golpe contra a democracia e, principalmente, contra as conquistas sociais e econômicas até aqui alcançadas. A cada dia fica mais evidente que a tentativa de impeachment da presidenta Dilma não passa de um golpe movido pelo ódio retaliatório de Eduardo Cunha – réu em vários processos no STF e dono de dezenas de contas escondidas no exterior – em conluio com os que não aceitam a derrota nas urnas.

Por isso, milhões de pessoas foram às ruas protestar contra o golpe. Parlamentares progressistas de forma incisiva denunciaram o golpe no congresso nacional. A sociedade, o movimento popular, acordou e se levantou. Artistas, cientistas, clero progressista, estudantes, intelectuais, juristas, mulheres, trabalhadores do campo e da cidade, bem como os diversos movimentos sociais, ocuparam as cidades do Brasil em defesa da democracia bradando “não vai ter golpe”.

A direita sentiu o “golpe” e tenta sem sucesso se descolar da pecha de golpista. Inútil. Seus atos falam por si mesmo e seu isolamento é crescente. Ela recrudescerá seus ataques, mas a vitória pertencerá ao povo. É preciso e possível derrotar o golpe e essa é a tarefa do momento.

Cada um deve ocupar a sua trincheira tendo presente que nas horas de tensão alguns se apequenam, desertam do combate; outros cumprem a sua parte burocraticamente; mas há os revolucionários que se agigantam exatamente nas horas mais difíceis, assim como tem feito a nossa brava militância.

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