Maniqueísmo ou luta de classes?

Independentemente do tema debatido a abordagem binária sempre reduz a discussão em uma mera disputa entre o bem e o mal, o feio e o bonito, o honesto e o corrupto.

O maniqueísmo empobrece toda e qualquer análise que deve primar pelo respeito à multiplicidade dos fatores envolvidos. Ou seja, entre o preto e o branco há todo um espectro de cores que nos ajudam a enxergar um mundo mais complexo e colorido.

Portanto, em todo debate político devemos ter o mínimo de discernimento e evitar criar super heróis que são cultuados como santos, bem como em demonizar o oponente como a reencarnação do Belzebu.

Mas a atual polarização política em curso no país pouco ou quase nada tem a ver com o maniqueísmo. Pelo contrário, faz parte da brutal e escancarada luta de classes que coloca de um lado milhões de brasileiros que pleiteiam mais e melhores direitos e, de outro, uma minoria de multimilionários que querem manter os seus privilégios.

Reduzir a atual crise política a um Fla-Flu é mais que subestimar o confronto histórico entre opressores e oprimidos. É tirar o foco de uma luta que se dá no campo político, econômico e ideológico para uma rebaixá-la a uma simplória rixa entre “coxinhas” e “petralhas”.

É justamente a partir desse confronto de classes que surge toda essa enxurrada de acusações, insultos e ofensas. Como diria Marx e Engels: “Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a pecha infamante de comunista?”

Na atualidade, uma conclusão em especial decorre desse fato: os governos Lula e Dilma são reconhecidos como uma força progressista e antineoliberal por toda a burguesia, nacional e internacional.

Essa é, portanto, a luta em que estamos inseridos. Uma luta histórica que permeia não somente nossa sociedade, mas todas as sociedades anteriores, desde o homem livre versus o escravo, patrício contra plebeu, o barão e o servo, numa palavra, “opressores e oprimidos, em constante oposição”, vivendo “numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta”.

Lula não é odiado apenas por ser um torneiro mecânico retirante do Nordeste e nem Dilma por ser mulher. Além desses preconceitos reside o fato central: ambos representam os interesses da classe operária.

Em uma correlação de forças extremamente desfavorável, incrementada por uma crise cíclica do capitalismo que demora a passar de fase, essa luta de classes ganha contornos fascistas que precisam ser prontamente combatidos, muito além da fantasiosa ideia de que se trata de apenas uma briguinha de torcidas rivais.

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