Quem comanda a coalizão governista?

Foi uma vitória a formação da mais ampla coalizão governista da história recente. Mas, quem é mesmo a locomotiva ou o núcleo desse gigante comboio político-partidário?

Lá se foram os 4 primeiros meses do segundo mandato do presidente Lula. Num primeiro olhar: “melhor impossível”. Lula chefia a mais ampla coligação de governo, que a vista alcança: quase uma dúzia de partidos. Da esquerda passando pelo centro e chegando até as bandas da direita. Ampla maioria na Câmara e maioria no Senado. Apoio da maioria dos governadores e o resto neutralizado. As pesquisas atestam índices de popularidade do presidente nas alturas. A oposição ainda se encontra alquebrada pela derrota e dividida. A situação internacional em que pese a marca da instabilidade, ainda continua favorável.


 


No segundo olhar, vão aparecendo os primeiros contratempos. O PAC, iniciativa acertada, se esbarra na política macroeconômica conservadora. Diretores do BC mais ortodoxos do que os próprios diretores do FMI foram substituídos. Agora, há uma esperança de que a queda nos juros se acentue. Todavia, nessa operação reclamada por 95 de cada 100 brasileiros, prevalece ainda a lentidão, o excesso de zelo, à subordinação às ordens do capital financeiro.


 


Num terceiro olhar, percebe-se que ampla coalizão aguarda a formação de um comando compromissado com o programa que reelegeu o presidente. É certo que o presidente Lula é o comandante-em-chefe da mais ampla coligação que se tem noticia na história recente. E esse fato a princípio é muito bom. Mas, um comandante sem Estado-Maior é um perigo. Pode-se corrigir essa análise, sublinhando a existência do Conselho Político da coalizão com suas reuniões até aqui regulares. É certo a correção e importante que o Conselho continue,digamos, se reunindo e aconselhando. Que é o papel de todo Conselho que mereça esse nome.


 


Num quarto olhar, ver-se-á que o comboio político-partidário não tem locomotiva, não tem um núcleo que o lidere e o conduza com firmeza no rumo da realização do programa.


 


Logo após a vitória, o PT chegou a falar da necessidade de um núcleo de esquerda para liderar essa ampla frente. O PSB e o PCdoB tinham simpatia por essa idéia. Mas, logo se viu que o PT falava da boca para fora. Fixou a conquista da presidência da Câmara como “a  mãe de todas as batalhas” e montou uma operação de guerra para derrotar o aliado que lhe  fora leal quando a direita tentou enxotar o presidente do Palácio e reduzir o PT a pó. 


 


É claro que o PT depois de ter bombardeado o núcleo de esquerda (PT-PSB-PCdoB) que fora determinante à resistência nos 90, que fora decisivo à vitória de 2002, ao primeiro mandato do presidente e à reeleição de 2006, a força majoritária dessa legenda também forjou um novo núcleo. A ala majoritária do PT agregada ao campo centro-direitista da coalizão.


 



Acontece que o PT está em processo congressual. Não é consenso esse “volver ao centro”, tampouco é convergente, mesmo na ala majoritária, essa aliança preferencial com o pólo de centro-direita da coalizão. Percebe-se então que essa gambiarra montada para substituir o núcleo de esquerda está com o seu poder de ação limitado. Tampouco esse “ajuntamento” reúne convicções, compromissos, para liderar com coragem e coerência a aplicação do programa vitorioso.


 


Num quinto olhar, enxerga-se com nitidez a pressão objetiva e forte da sucessão do presidente Lula. O PT fala que pode não ter candidato. E ninguém absolutamente ninguém acredita nessa conjectura. Outras potenciais candidaturas vão se apresentando e já fazem seus primeiros movimentos. Se no primeiro governo a aliança era regida por uma força centrípeta já que todos lutavam de antemão pela reeleição de Lula, dessa feita a ampla coalizão é pressionada por uma força centrífuga uma vez que Lula não pode, pela legislação atual, candidatar-se novamente.


 


À espreita, a oposição tudo observa, tudo vê. Momentaneamente está debilitada, mas representa poderosos interesses de dentro e de fora do país. Hoje está dividida, mas amanhã poderá unir-se.


 


Por isso, para além do contencioso acumulado, para além das diferenças, as forças de esquerda, progressistas e democráticas da coalizão, não podem perder de vista os compromissos assumidos com a nação e o povo no sentido de garantir o êxito do segundo governo Lula e dessa maneira assegurar continuidade do ciclo alvissareiro aberto com a vitória histórica de 2002.

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