Trabalhadores e Patrões: papéis opostos no golpe
A luta política está alcançando seu ápice de radicalização. Enquanto milhões de trabalhadores ocupam às ruas defendendo a liberdade e o respeito à institucionalidade democrática, os patrões aglutinados em torno da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) deixaram de lado qualquer sutileza e passaram a defender abertamente o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
Publicado 05/04/2016 15:59
Em 14 páginas dos principais jornais do país a FIESP faz um patético apelo aos parlamentares para que apoiem o golpe, sugerindo que se pergunte aos deputados de que lado eles estão.
É uma propaganda milionária, paga com seu dinheiro, pois como todos sabem empresário além de não pagar imposto não faz caridade, o que ele gasta, inclusive com luxo pessoal, simplesmente é repassado ao consumidor.
Sem querer, todavia, a FIESP nos deu uma grande ajuda. Ajudou a demonstrar que os patrões são golpistas, enquanto os trabalhadores são defensores da democracia. Deixou evidente que os trabalhadores e a direita, os patrões, sempre estarão em lados opostos.
E deixou os (as) parlamentares pro golpe na incômoda posição de terem que optar entre abandonar o golpe ou admitirem que estão a serviço dos patrões da FIESP. Certamente parte desses parlamentares farão uma revisão nas suas posições pois deve ser bastante incômodo o papel de "pau mandado" do patronato paulista.
Quando a luta política se intensifica ela decanta os campos, geralmente caminha para a bipolaridade. De um lado se agrupam as forças reacionárias, de direita; do outro lado estão aquarteladas as forças progressistas.
Com exceção da igreja católica e das Forças Armadas, há enorme semelhança entre os golpistas de hoje e os de 1964, incluindo a farsa do combate à corrupção e da histriônica e arcaica pregação anticomunista.
Mas a direita já começa a admitir sua dificuldade para executar o golpe, conforme reconhece a Folha de São Paulo em editorial de capa do dia 03 do corrente, intitulado "nem Dilma nem Temer", no qual o baronato paulista faz um patético apelo para que Dilma renuncie.
Em síntese o jornal reconhece que:
O pedido de impeachment que tramita na câmara não tem base legal (portanto é golpe) e se for levado a efeito provavelmente esgarçará o país;
O governo Dilma tem expressivo apoio do movimento popular, o que leva a direita concluir que haverá duríssima reação ao golpe, com consequências imprevisíveis;
Eles não têm ninguém com credibilidade para substituir Dilma Rousseff num eventual impedimento da presidenta;
Eu acrescentaria que hoje, diferente de 64, a direita não conta com as Forças Armadas para fazer o seu trabalho sujo de contenção das mobilizações populares por meio da repressão, torturas e até assassinatos. Ela terá que fazer isso diretamente, ou seja, enfrentar o movimento popular nas ruas. E nesse caso o resultado me parece bastante previsível.
Diria, também, que diferente de 64, quando os "avanços" sociais e econômicos eram mera expectativa, hoje há uma razoável clareza dos avanços que esse país experimentou, o que certamente levará o povo a fazer, no momento oportuno, o balanço de "perdas e danos".
Esse é o dilema da direita diante do impasse, razão pela qual ela apela por "saídas" como a renúncia, o que lhe pouparia de ser definitivamente carimbada como golpista e evitaria a "guerra" que se avizinha, cujo desenlace é uma incógnita.