Metamorfose ambulante

Há dois tipos de Partidos Políticos! Digo, dois grupos de Partidos a grosso modo. Um grupo de partidos do capitalismo, ou seja, agrupamentos partidários que defendem explicitamente ou implicitamente o capitalismo em pensamentos e obras e quase nunca em palavras.

Neste grupo há os que se colocam a esquerda, buscam compensações “sociais” e outras migalhas do sistema, sem nem de longe, pensar em transpô-lo. São democráticos na proporção direta do que este modus operandis lhes favoreçam em termos eleitorais ou mesmo na busca de hegemonias.

Existem os de “centro”, que atuam, por vezes mediando e buscando formas mais elegantes, educadas e aparentemente gentis de perpetuar o sistema vigente. E há os de direita, além dos de extrema direita, que são aqueles que querem a manutenção do regime como os outros, porém fazem isso de forma escancarada, dura, ditatorial e fascistas. Crescem sempre nos momentos de crises e quando os outros, deste campo, falham em “humanizar” as relações dominantes, o que é comum.

O outro grupo é composto por Partidos anti capitalistas. Agrupamentos e organizações que tem como objetivo estratégico, alguns em retórica, a derrubada do sistema que beneficia o capital. Esses também têm em sua “composição” um espectro político que vai de “esquerda” a “direita” passando por posições “centristas”. Mas pregam, propagam e difundem, uns mais outro menos, a derrocada do capitalismo e a construção de uma sociedade nova de caráter socialista. Em que os de “baixo” tomem nas mãos as rédeas do seu destino. Este grupo de partidos assumem no geral táticas diversas, por vezes divergentes, mas tem como objetivo estratégico a construção de um novo sistema. Um mundo que se baseia na propriedade coletiva dos meios de produção.

Nos momentos de crises do sistema capitalistas de suas representações político-institucionais as coisas vistas por olhos desatentos embaralham um pouco e é preciso ter a lupa da ciência social e política (marxismo) para checar e entender o que se passa na essência. Nesses momentos a aparência pouco ou nada dizem. Na ampla maioria das vezes o que parece ser não é!

O Brasil passa por um momento desses. Um Partido capitalista de esquerda, com programas sociais relativamente avançados e com uma intenção, no geral, benéfica, chegou ao governo e portanto atingiu parcela importante do poder, através das eleições. Chegou lá com apoio de partidos de centro, dentro do grupo capitalista, e com partidos do campo anticapitalista. Atitude facilmente explicada pelo momento de resistência vivido a partir da derrota estratégica do chamado “socialismo real”. Assim os partidos “anti” participaram do processo porque entenderam e enxergaram uma oportunidade de através das políticas, aplicadas pelo partido capitalista de esquerda poderiam acumular forças e produzir ações que elevassem o grau de consciência de parcelas maiores da população sobre o entendimento de que a mudança radical seria de fato necessária.

Ocorre que este partido de esquerda, capitalista, que chegou ao governo, na incapacidade de manter a diferenciação a partir da qual ganhou as eleições, terminou por usar expedientes próprios das agremiações de centro e de direita no espectro político citado anteriormente. Levando ao risco eminente de jogar por terra todas as parciais conquistas obtidas com e pelo apoio dos partidos ante capitalistas. Essa é a luta em curso!

A questão é boa parte da esquerda (anti e pró) formou quadros que hoje assumem postos importantes no cenário político nacional, que não consideram os objetivos e a natureza estratégica das ações táticas. São dirigentes sagazes, espertos e com grande, no geral, capacidade política.

Entretanto muitos se perderam no estaticismo vulgar e desprezam o necessário conteúdo ideológico estratégico do processo de resistência em curso. Termina por repetir a formula derrotada do passado em que o movimento é tudo e o resultado final não é nada. A manutenção do partido (capitalista) no governo não pode ser um fim em si mesmo. Resistir e defender a democracia, mesmo capitalista, é um dever dos partidos ante. Mas não existe tática correta desprovida de sentido estratégico revolucionário. Jogar a água suja com a criança é muito ruim, mas pior é jogar a criança fora e deixar a água suja na bacia. Sem objetivos estratégicos a tática passa a ser um conjunto de ações amorfa e sem sentido.

O impeachment tal qual proposto pela oposição é um golpe. Não há crime de responsabilidade que justifique tal atitude. Derrota-lo na câmara é possível e necessário. Contudo me preocupa o after day!

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