Diferenças e semelhantes nos golpes da direita

A direita sempre foi covarde, razão pela qual invariavelmente terceiriza a execução de seus projetos golpistas. Utiliza o aparelho de estado para atacar seus adversários e usurpar o poder político, por qualquer método ao seu alcance. Se a situação lhe é favorável até disputa eleições, mas está sempre disposta a recorrer a golpes militares ou a qualquer outro expediente escuso para controlar o governo.

Em 64, por exemplo, ela criou o “caos” a partir de sistemáticos ataques orquestrados pelos seus meios de comunicação contra o governo Jango, a quem acusavam de esquerdista e corrupto. Uniu toda a direita, trouxe a 4a frota americana, contou com o apoio da ABI, da OAB, da igreja, e escalaram as Forças Armadas para fazer o trabalho sujo.

O resultado nós sabemos: 21 anos de trevas, tortura e corrupção, que sempre se avoluma na ditadura, mas é abafada pela falta de transparência, criando a ilusão de que não existe ou foi reduzida.

Tal como agora a pauta e os métodos eram os mesmos. Seria coincidência? Não. Trata-se de um padrão mundial que a direita sempre utiliza para atacar seus inimigos de classe, recorrendo ao aparelho de estado.

Mas não é o PT que controla o estado, certamente questionará o leitor menos avisado. O PT controla parte do governo, jamais o aparelho de estado, que são coisas completamente distintas.

O estado é um instrumento de dominação da classe dominante. Tem conteúdo de classe e valor histórico, como bem demonstraram Thomas Hobbes (O Leviatã, 1651), Montesquieu (O Espírito das Leis, 1748) e Marx & Engels (A Origem da Família, da propriedade privada e do Estado, 1884).

Marx & Engels foram os primeiros a demonstrar que o estado nada mais era do que um instrumento de dominação da classe dominante, que jamais se prestou a ser mediador dos conflitos das classes antagônicas através da separação dos poderes (legislativo, executivo e judiciário) como idealizou Montesquieu.

Para Hobbes, todavia, a humanidade não tinha capacidade de se autogerir. Necessitava de um imperador com poderes absoluto para evitar que a sociedade se dilacerasse, razão pela qual defendia um estado autoritário, absolutista, sem respeito a qualquer liberdade.

Por mais absurdo que possa parecer, a concepção do estado neoliberal defendido pela direita brasileira é baseada precisamente na teoria de Hobbes, cuja essência é a supressão das liberdades individuais e a intransigência com as reivindicações do movimento social.

Como se pode vê não há coincidência nos abusos praticados pela operação lava-jato. Há uma doutrina reacionária a sustenta-la e a execução prática das medidas fica a cargo do aparelho de estado, instrumento de dominação da classe dominante.

Assim, se no Brasil, a direita “institucional” (partidos, parlamentares) é fraca, desgastada e desacreditada, o que explica porque após anos de ataques midiáticos constantes contra o governo Lula e Dilma ela não consegue sequer ter uma maioria consistente nas enquetes pré eleitorais, ela dispõe do aparelho de estado para levar adiante a sua pauta e seus métodos golpistas. Se não dispõe das Forças Armadas recorre a outro instrumento do aparelho de estado: o poder Judiciário, ou melhor, parte dele, porque é evidente que não há unidade no judiciário em torno do golpe.

Esse movimento, como o próprio juiz Moro alardeia, se inspira na chamada "operação mãos limpas", cuja essência é a negação da política como um todo sem oferecer nada de concreto para por em seu lugar. Na Itália resultou na eleição de Berlusconi, que está longe de ser uma alternativa decente.

Talvez não haja surpresa. O que a direita sempre desejou é uma sociedade com democracia restritiva, de preferência coma volta do voto censitário e outros barbaridades.

Mas a direita também tem certa dificuldade para levar adiante seu intento golpista. Se em 64 a UDN, partido que liderou o golpe, tinha o acatamento das demais forças golpistas. Hoje os líderes do PSDB, herdeiro da UDN nos métodos e no conteúdo, são enxotados das manifestações que eles mesmos financiam e convocam. Não contam com o apoio da igreja católica; das forças armadas e tampouco dispõe uma liderança política capaz de ser levado a sério. E lhes falta apoio popular.

Por outro lado a direita tem contra si um verdadeiro paredão, no qual estão perfilados todos os principais partidos de esquerda; o movimento popular progressista (centrais sindicais do campo e da cidade, entidades estudantis e juvenis, movimentos sociais de moradia, da luta emancipacionista, etc.); a expressa manifestação do clero progressista condenando atos golpistas, ao qual se somam intelectuais e artistas notáveis do país e do exterior. Não é uma tarefa simples.

Se derrotar a direita não é simples, está longe de ser impossível derrota-los. Exige, de nossa parte, governabilidade mínima, retomada do crescimento econômico e uma coalizão mais programática.

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