São Paulo, 462 aninhos!

Alguma coisa acontece no meu coração. Mas não é só quando eu cruzo a avenida Ipiranga com a São João. Acontece, principalmente, quando eu cruzo com a quantidade crescente de moradores de rua, ou “pessoas em situação de rua” como dizem as Assistentes Sociais. Antes o seu povo era só oprimido “nas vilas, filas e favelas”. Hoje são acossados no metrô e nos trens da CBTM e afins.

São Paulo que escolhi pra viver por acaso, mas ao chegar me apaixonei imediatamente, é assim. Suas contradições e sempre novidades me fizeram ir ficando, ficando. A militância política e social me aproximou ainda mais desta “selva de pedra”. Há mais de três décadas eu me surpreendo com sua magia e seus mistérios. Capital do “serviços” que quando aqui cheguei tinha quatrocentos e cinquenta mil metalúrgicos, hoje reduzido a oitenta. Das inúmeras fábricas têxteis na Moóca e no Tatuapé pouquíssimas restaram e não mais por lá. Afinal eram cem mil operarias e operários e hoje são pouco mais de dez mil. 

Mas o que mais me impressiona é sua fantástica capacidade de atrair gente. Aquihá seres humanos de todos os estados do país com certeza. E de vários, vários países do planeta. Ao passear pela região central nos deparamos com uma parte da África. Coisa recente que mantém acesa a mística da “pauliceia”. Recentemente palco de intermitentes manifestações e “protestos”, vive o recrudescimento de atitudes racistas e preconceituosa.
Sabemos que é por pouco tempo. Pois a cidade dos “mil povos” não tolera isso. Tanta coisa há pra se dizer sobre esta magnetizante metrópole onde cada rua, cada bairro, cada região tem histórias que dariam livros e filmes a vontade. Resolvo neste espaço prestar uma singela homenagem. Empresto a genialidade de um baiano que é meu vizinho e se considera “bailistano”.

“..Augusta,graças a deus,
Graças a deus,

Entre você e a angélica

Eu encontrei a consolação

Que veio olhar por mim

E me deu a mão.

Augusta, que saudade,

Você era vaidosa,

Que saudade,
E gastava o meu dinheiro,

Que saudade,

Com roupas importadas

E outras bobagens.

Angélica, que maldade,

Você sempre me deu bolo,

Que maldade,

E até andava com a roupa,

Que maldade,

Cheirando a consultório médico,

Angélica.
Augusta, graças a deus,

Entre você e a angélica

Eu encontrei a consolação

Que veio olhar por mim
E me deu a mão.

Quando eu vi

Que o largo dos aflitos

Não era bastante largo
Pra caber minha aflição,
Eu fui morar na estação da luz,

Porque estava tudo escuro

Dentro do meu coração…”

“Augusta,Angélica e Consolação”(Tom Zé)

Parabéns São Paulo. Quem olha seu futuro não esquece seu passado.

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