São Paulo precisa de memória

São Paulo chega aos 462 anos neste 25 de janeiro como metrópole moderna, com ilhas de excelência cercadas de um mar de problemas e desigualdade. A cidade tem negligenciado a identidade de sua formação social, repleta de personalidades, ciclos e episódios que moldaram o Brasil, vítima de uma deformidade a-histórica que segrega no passado os fundamentos do presente e as bases forjadoras do futuro.

À exceção da rebelião de 1932, celebrada todos os anos, embora sem atingir o clímax do civismo paulistano, eventos ultrarrelevantes da cronologia municipal não têm merecido festas ou tributos regulares, inseridos no calendário histórico. A cidade não celebra o apóstolo Paulo como o Rio de Janeiro festeja São Sebastião. Não comemora o Grito do Ipiranga a 7 de setembro da forma efusiva como Salvador enaltece o 2 de julho que assinala a adesão da Bahia à Independência. Não exalta a proclamação da República acelerada pelos barões do café que promoveram a Convenção de Itu e fundaram o Partido Republicano Paulista para acabar com o Império decadente. Falta até mesmo uma grande festa religiosa, como Círio de Nossa Senhora de Nazaré de Belém, para homenagear o padroeiro, até porque a população não sabe qual é, se São Paulo ou Nossa Senhora da Penha.

Tanto quanto negligenciada, a História de São Paulo tem sido alvejada por revisões politicamente corretas que ressalvam o trabalho dos jesuítas (que com uma escola fundaram a cidade sob o signo da cultura), escarnecem os bandeirantes (demarcadores e conquistadores do Brasil profundo), ignoram as campanhas decisivas pela Independência, Abolição e República, esquecem a formação da classe operária e das lutas sociais no início do século XX, e já não fazem jus à revolução estética da Semana de Arte Moderna de 1922.

Há muito o que celebrar nesses 462 anos fecundos da trajetória de uma cidade construída pela força do povo, mas a memória dos feitos históricos deve ser permanentemente revitalizada.

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