Ano novo, pauta nova, sem euforia!

Para um ano que “prometia não acabar”, 2015 até que acabou bem, especialmente para as forças progressistas desse país espetacular chamado Brasil.

Três fatos foram determinantes na formatação desse novo cenário: a mobilização do movimento popular em repúdio ao golpe; a inexistência de fato concreto para sustentar o pedido de impeachment; e a percepção crescente, pelo conjunto da população, de que o movimento para depor a presidenta Dilma Rousseff era claramente de direita, de caráter golpista e liderado por gente com uma folha corrida de fazer inveja ao mais destacado marginal. E todos esses fatos se impuseram na contraofensiva de uma cobertura jornalística claramente tendenciosa e parcimoniosa. Aqui reside algo efetivamente novo e alvissareiro.

Esses fatos, somados as medidas adotadas pelo STF em resposta à petição do PCdoB, contribuíram para arrefecer o ânimo dos golpistas e estabelecer algum limite nas descaradas manobras do presidente da Câmara dos Deputados. É preciso ter presente, porém, que essa foi apenas uma batalha vencida de uma guerra que ainda está em curso.

A mobilização do movimento popular sinalizou claramente que não haverá golpe sem luta e sem resistência, fazendo com que setores produtivos passassem a mensurar o alcance e as consequências, imprevisíveis sob todos os aspectos, desse inevitável conflito. E isso sem um envolvimento mais direto do conjunto da população que, como tenho sustentado, ainda “assiste” como mera espectadora a disputa entre as forças progressistas e essa horda golpista de direita.

Numa etapa posterior, a despeito do boicote dos meios de comunicação, é possível mobilizar os 48 milhões de brasileiros(as) diretamente beneficiados com a valorização real de 76% do salário mínimo, cujo montante de recursos será de mais de 549 bilhões de reais, apenas em 2016.

A esses é possível agregar os contemplados nos programas de moradia popular, cujo montante pode ultrapassar 21 milhões de pessoas beneficiadas com as 7 milhões de moradias da 1ª e 2ª etapa do “Minha Casa, Minha Vida”. Juntar-se-ão, sem dúvidas, os milhões de contemplados com programas tipo “Luz para Todos”, transposição das aguas do rio São Francisco, “Bolsa Família”, “bolsa universitária”, etc.

Sem mencionar os milhões de trabalhadores que obtiveram um emprego graças a expansão de projetos industriais de refinarias, portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, naval, dentre tantos outros.

E mesmo a academia, que presencia a expansão das universidades e institutos, tanto em termos numéricos quanto de equipamentos, pode perfeitamente fazer o comparativo com o desmonte e o sucateamento que assistiu desse setor no recente governo neoliberal de FHC.

Como se pode vê há muito coisa para defender, porque temos muito a perder com uma eventual mudança de rumo que, em última análise, é o que está em debate como aos poucos a população vai percebendo. E nesse sentido a vitória da direita na Argentina é pedagógica, pois as primeiras medidas anunciadas pelo novo governo foram exatamente de corte em programas sociais.

A inexistência de fato concreto para sustentar o pedido de impeachment tem levado inúmeros setores sociais, sem qualquer vínculo formal ou ideológico com o governo, a compreenderem que é a própria democracia que está sendo ameaçada. E aos poucos vão abandonando o movimento golpista. A direita já não esconde mais seu intento e seu desespero. Passa a argumentar, portanto, que o governo deve mudar porque está muito desgastado… ! Ficariam pouquíssimos governos estaduais e municipais, especialmente os governados pela direita tucana, como Paraná e São Paulo, por exemplo.

E finalmente veio a percepção crescente de que o movimento para depor a presidenta Dilma Rousseff tem caráter claramente golpista, conteúdo ideológico de direita, liderado por gente com uma vasta folha corrida criminal, sem qualquer escrúpulo e determinados a por fim aos programas sociais e de investimentos (que eles chamam de "gastança") levados a cabo pela presidenta. O indisfarçável mal estar com que eles anunciam que o salário mínimo teve valorização real de 76% de 2003 a 2015 é apenas uma pequena amostra do caráter reacionário deles.

Mas não nos iludamos, eles voltarão a carga forjando novos fatos. A luta é política, ideológica e não terá solução simples. De nossa parte cabe continuar mobilizando o povo, retomar o crescimento econômico, expandir os direitos sociais e trabalhistas dos trabalhadores e implementar as necessárias obras de infraestrutura para assegurar o desenvolvimento sustentável do país.

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