Samba & Grande Otelo

Ao sentar para escrever estava com uma idéia “pronta” na cabeça. Afinal, depois de tantos “acontecimentos” como, prisões de Senador, assessor e banqueiro, Conferência Mundial sobre o Clima e etc, assuntos para comentar não faltam. Entretanto, resolvi escrever sobre um tema que julgo conhecer mais e está atual: O samba!

Dia 2 de dezembro, comemoramos o Dia Nacional do Samba, já se vão 31 anos, desde que eu e alguns amigos, ali na rua Júlio Rinaldi, na Barra Funda, bem próximo a Brigadeiro Galvão participamos do primeiro evento em alusão a data. Era na “Rua do Samba” comandada pelo grande Evaristo de Carvalho, falecido recentemente.

O show era do Martinho da Vila, mas em nossa conversa é que o “Samba” merecia muito mais, talvez um feriado nacional. E porque não? Difícil dizia o “Tim Maia” zagueiro muito bom de bola, que usava o Black Power meio fora de moda, mas, experiente, sabia que nós garotos, estávamos sonhando.

Pois bem, hoje, após mais de três décadas, pouca coisa avançou, embora num contexto geral, ou contextualizando, como dizem os acadêmicos, tenhamos os negros conquistando perceptíveis avanços, neste quesito estamos mais devagar que o samba cantando pelo Martinho, naquele domingo de Sol…” É devagar, é devagar, devagarinho…”

O fato é que tendo referência o “Samba” composto e gravado em 1916 “Pelo Telefone”. Vários compositores assinaram a obra, contudo coube ao Mestre Donga, emprestar-lhe a voz rouca além de algumas estrofes. Aliás a polêmica que cerca a composição e mesmo a denominação se tal música era um samba mesmo, durou anos. Para variar… até nisso, o movimento negro, sofre buscando unificar opiniões e conceitos. De qualquer sorte a história do samba é marcante.

Toda a discussão introduziu ainda mais magia e charme para a música. “Pelo Telefone” tem uma estrutura ingênua e fora de ordem, melodias e refrãos diferentes, o que reforça a teoria de que realmente foi composta aos pedaços.

Certas versões da música mostram a expressão “o chefe da polícia”, já em outras “o chefe da folia”, essa alteração na letra servia para evitar problemas com as autoridades e estão relacionadas a uma versão popular que, de acordo com Donga, foi inspirada numa situação que envolveu Irineu Marinho, na época proprietário do jornal “A noite”. A armação tinha objetivo de destituir seu desafeto, o chefe de polícia do Rio de Janeiro Aureliano Leal. Seria montada uma roleta no Largo da Carioca que serviria apenas para desmoralizar Aureliano, já que ele havia determinado que seus subordinados informassem “antes pelo telefone” aos infratores, a apreensão do material usado no jogo de azar. Assim existem duas versões da música, a oficial e a do povo.

O fato é que prestes a entrar em seu centenário a comemoração ainda deixa a desejar.

Talvez eu tenha sido beneficiado pela sorte ao receber em mãos a bela obra do escritor Paulo Lins, o autor do livro de 1997: “Cidade de Deus”. Sim aquele que deu origem ao filme e lançou Fernando Meirelles para o mundo.

Pois bem recebi o delicioso “Desde que o Samba é Samba”! Com seu estilo inconfundível, que tanto agradou os leitores da obra citada acima, o escritor resgata, neste, momentos da formação da cultura brasileira através do samba, da aparição da Umbanda e do modo de vida no Rio de Janeiro de 1928 a 1931. Para isso, o autor conta a história de diversos personagens envolvidos na fundação do primeiro bloco de Carnaval, da escola de samba Deixa Falar. Moradores e frequentadores da zona do baixo meretrício do Rio trazem ao leitor toda a realidade das ruas naquela época. Prostituição, relacionamentos conturbados, sexo, violência, mas também a fé e o samba, ditam o ritmo intenso e cativante da obra. Muito bom, embora tenha sido lançado em 2012, só agora consegui ter acesso.

O dia Nacional do Samba merecia ao menos a reedição da obra e sua distribuição nas escolas, como parte da lei 10639 que orienta o ensino da história real aos jovens.

Merece uma honrosa menção a “sacada” do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, presidido pelo Chicão, que resolveu de forma singular e precisa, comemorar o dia do Samba com uma semana em homenagem ao magnífico Grande Otelo. Uma mostra de filmes tendo-o como protagonista o que por si só já é uma maravilha. Parabéns ao Sindicato dos Eletricitários pela brilhante iniciativa! Valorizar personagens da nossa história e da nossa cultura é fundamental para mantermos viva a chama da consciência nacional em tempos de intolerância.

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