Pacto sinistro

Crise. Ao longo deste meio século de existência se há uma palavra que ouvi com muita frequência foi essa. Econômica, financeira, moral ou política, não importa a espécie, mas em dado momento ela sempre surge, e às vezes parece que não vai mais embora. A crise política em geral sempre é acompanhada da crise econômica. A primeira que me recordo, quando ainda jovem, veio com a morte do então presidente Tancredo Neves.

Tancredo não era uma unanimidade até porque, em um dado momento, abandonou setores da esquerda, caminhou para o centro e lançou-se a Presidência da República por um colégio eleitoral. O momento econômico era tão cruel e a ânsia pelo fim da ditadura tamanha, que um pacto com amplos setores foi preciso para derrotar o regime autoritário. Com sua morte, mais pacto tivemos que amargar – era o pacto para engolir o Sarney, vice de Tancredo, que havia presidido por muito tempo o partido que deu sustentação a ditadura militar, tudo isso em nome da governabilidade e da democracia. Após esse início frustrante de redemocratização do país, nos momentos de crise, a palavra pacto sempre surge com força. Foi assim no final da era Collor e nas crises econômicas de hiperinflação que antecederam os planos Bresser e o Cruzado.

O que mais chama atenção na atualidade, quando passamos pela maior crise já vivenciada nesse período pós-ditadura (uma vez que ela é política, econômica e moral), é que a palavra pacto quase não aparece. É como se ele já existisse de forma silenciosa e invisível com um único propósito: provocar o caos político, a ingovernabilidade e a queda da presidente Dilma Rousseff. Se esse é realmente o pacto em curso, os cavaleiros do apocalipse, que há pouco saíram às ruas pedindo a volta da ditadura, provavelmente estão comemorando porque pelo menos um golpezinho branco com a paralização do país eles já ganharam de gorjeta.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor