A estratégia do caos
Bandeiras a meio mastro nos países da Otan pelo "11 de setembro da França", enquanto o presidente Obama anunncia aos meios de comunicação : "Nós lhes forneceremos informações sérias sobre quem são os responsáveis". Sem que seja necessário esperar, já está claro. O enésimo massacre de inocentes foi provocado pela série de bombas de fragmentação geopolítica, que explodiram segundo uma estratégia precisa.
Publicado 22/11/2015 14:30
Esta foi aplicada desde que os Estados Unidos, depois de terem vencido a confrontação com a União Soviética, autonomearam-se "o único Estado com uma força, uma envergadura e uma influência em todas as dimensões – política, econômica, militar – realmente globais", propondo-se "impedir que qualquer potência hostil domine uma região – a Europa ocidental, a Ásia oriental, o território da ex-União Soviética e a Ásia sudoeste – onde os recursos seriam suficientes para gerar uma potência global". Com esse objetivo, os Estados Unidos reorientaram desde 1991 a sua própria estratégia e, em acordo com as potências europeias, a da Otan.
Desde então, foram fragmentados ou demolidos com a guerra (aberta ou encoberta), uns após outros, os Estados considerados como um obstáculo ao plano de dominação global – Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia etc. – enquanto que outros mais (incluindo o Irã) ainda estão na mira. Essas guerras, que esmagaram milhões de vítimas, desagregaram sociedades inteiras, criando uma massa enorme de desesperados, cuja frustração e rebelião conduzem, de uma parte, a uma resistência real, mas de outra são exploradas pela CIA e outros serviços secretos (inclusive franceses) para seduzir os combatentes a uma "jihad" de fato funcional à estratégia dos Estados Unidos e da Otan.
Assim se formou um exército sombrio, constituído por grupos islamitas (frequentemente concorrentes) utilizados para minar desde o interior o Estado líbio enquanto a Otan o atacava, depois por uma operação análoga na Síria e no Iraque. Disto nasceu o Isis (EI), no qual confluíram os "foreign fighters" (combatentes estrangeiros), entre os quais agentes de serviços secretos, que recebeu bilhões de dólares e de armas modernas da Arábia Saudita e de outras monarquias árabes, aliadas dos EUA e em particular da França. Esta estratégia não é nova: há mais de 35 anos, para derrubar a URSS na "armadilha afegã", foram recrutados por meio da CIA dezenas de milhares de mudjahedins de mais de 40 países. Entre esses o saudita rico Osama Bin Laden, chegado ao Afeganistão com quatro mil homens, o mesmo que iria em seguida fundar a Al Qaeda tornando-se o "inimigo número um" dos EUA. Washington não é o aprendiz de feiticeiro incapaz de controlar as forças postas em ação. Ele é o centro propulsor de uma estratégia que, demolindo Estados inteiros, provoca uma reação caótica em cadeia de divisões e conflitos a utilizar segundo o método de «dividir para reinar».
O ataque terrorista em Paris, cometido por uma mão de obra convencida de golpear o Ocident, aconteceu numa perfeita oportunidade no momento em que a Rússia, intervindo militarmente, bloqueou o plano dos EUA e da Otan de demolição do Estado sírio e anunciou contramedidas militares à crescente expansão da Otan para o Leste. O ataque terrorista, criando na Europa um clima de estado de sítio, «justifica» um crescimento em poder militar acelerado dos países europeus da Otan, incluindo o aumento de suas despesas militares reclamadas pelos EUA, e abre o caminho a outras guerras sob o comando estadunidense.
A França que até o presente tinha conduzido "contra o Estado Islâmico na Síria apenas ataques esporádicos", escreve o New York Times, efetuou na noite de domingo "em represália, o ataque aéreo mais agressivo contra a cidade síria de Raqqa, atingindo alvos do EI indicados pelos Estados Unidos". Entre os quais, esclarecem funcionários estadunidenses, "algumas clínicas e um museu".