Intolerância

A intolerância, segundo o dicionário, é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões. Ou seja, as pessoas não respeitam as diferenças ou as opiniões dos outros.

 "É uma manifestação de intolerância com hábitos mutáveis da sociedade, burra, discriminatória e preconceituosa".

Num sentido político e social, intolerância é a ausência de disposição para aceitar pessoas com pontos de vista diferentes. Como um “produto” social, isto está em certo sentido aberto a interpretação. Por exemplo, alguém pode definir intolerância como uma atitude expressa, negativa ou hostil, em relação às opiniões de outros, mesmo que nenhuma ação seja tomada para suprimir tais opiniões divergentes ou calar aqueles que as têm. Tolerância, por contraste, pode significar "discordar pacificamente". A reação emocional é um fator primário que (pode) diferencia(r) intolerância de discordância respeitosa

A intolerância pode estar baseada no preconceito, podendo levar a discriminação. Formas comuns de intolerância incluem ações discriminatórias de, tentativas, de controle social, como racismo, sexismo, homofobia, heterossexismo, etaísmo, intolerância religiosa e intolerância política. Claro que não se limita a estas formas, alguém pode ser intolerante a quaisquer ideias de qualquer pessoa.

O fato é estamos vivendo em nosso país, um recrudescimento (exasperação, agravamento) da intolerância. Há informações diárias sobre fatos que comprovam isso. E embora as manifestações assumam as mais variadas formas e matizes, tem como marca principal a questão social, regional, racista e religiosa. Sintetizadas num determinado grau de radicalidade da intolerância política e ideológica.

Talvez tenhamos que estudar mais o “fenômeno”, mas me parece óbvio que a oposição aos governos de Lula/Dilma patrocinada pela mídia e por setores(largos) do judiciário investiu na disseminação da intolerância, enquanto canal propagandístico psicológico a mobilizar mentes(atrasadas) e corações.

Conceitos como “cordialidade brasileira” e “democracia racial” estão sendo postos à prova no momento em que há um reconhecimento inédito, por parte do Estado brasileiro, notadamente depois de 2002, da importância de políticas públicas que tentam reduzir a desigualdade social. Por outro lado, o reconhecimento e enfrentamento de uma divisão racial interna explicitou uma das facetas atribuídas à identidade brasileira, qual seja, a manutenção de uma ambiguidade, do estigma como impulso de reversão e do cinismo em relação à lei, que se estende às relações raciais em sua economia de transformação entre a esfera pública e a esfera privada, onde, por exemplo, uma empregada doméstica é retratada afetivamente como “parte da família”, mas não senta com essa mesma família à mesa para jantar.

O caso brasileiro se torna mais relevante se atentamos para o cenário dos anos 2000-2010, com a chegada da “nova classe trabalhadora”, segundo Jessé de Souza (2010), às universidades e ao mercado mais amplo de consumo. Esse fenômeno parece ter dado ensejo a um novo tipo de intolerância em relação às diferenças étnicas e sociais, eventualmente ligado a uma nova gramática de opressão e violência (Guimarães, 2012). Entender a natureza da complexidade envolvida, quando se trata de questões relativas à intolerância, tem levado muitos pesquisadores a pensar que deveríamos ir além das circunstâncias econômicas, políticas e sociais que justificam as paixões das nações, grupos étnicos e religiosos, classes sociais e indivíduos. É preciso abarcar a especificidade de cada conflito, inclusive as fantasias que cada grupo provoca no outro com os quais tem contato e disputa espaços políticos, ampliando o debate acerca do tema para um patamar que ultrapasse os posicionamentos dualistas de avaliação das práticas em andamento e outras ações possíveis na redução dos problemas.

Uma das formas de implementação das denominadas “políticas de igualdade” no Brasil, nos últimos anos, tem sido por meio de políticas denominadas “ações afirmativas”, medidas positivas tomadas para aumentar a representação das minorias nas áreas do emprego e da educação (Vieira, 2005). Como essas ações envolvem seleção preferencial com base em raça, gênero ou etnia, a ação afirmativa pode, no entanto, gerar intensa polêmica.

Portanto, no meu entender, a constatação que faço no início deste artigo é parte integrante de uma ação consciente das elites e da oposição, como forma de resistir aos avanços sociais oriundos dos últimos doze anos de governos democráticos e com um certo nível de popularidade (me refiro ao conteúdo e não a forma). O estimulo artificial a manifestações de intolerâncias que tendem a acentuar-se, pode ser um “tiro no pé” daqueles que pensam em tirar proveito de uma situação “inaproveitável”.

As ações agressivas e hostis contra políticos de determinado Partido não demorarão a atingir outros e assim sucessivamente. Para conter a aparente sanha moralista, pseudo jacobina, de vestais hipócritas que tentam capitalizar a insatisfação generalizada é necessário resistir e contra atacar.

É motivo de controvérsia, mas considero legitimo um governo aplicar a força para impedir o incitamento ao ódio. Em países como Alemanha, França, Portugal e mesmo aqui no Brasil, as pessoas podem e devem, em minha opinião, ser processadas por tal atitude. Esta é uma questão sobre quanta intolerância o governo deve aceitar e como ele (os poderes) decide o que constitui uma manifestação de intolerância.

Enquanto prossegue o debate sobre o que fazer com a intolerância alheia, algo que frequentemente ignora-se é como reconhecer e lidar com a nossa própria intolerância. Militantes conscientes e de história respondem com intolerância as manifestações dela em seu meio, em suas organizações e entidades. A estes só resta apelar para a consciência!

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