A crise se resume à luta política

Nós podemos analisar as dificuldades conjunturais que o Brasil enfrenta pelo aspecto econômico, político, ou moral. E certamente cada analista atribuirá peso de acordo com os seus objetivos e interesses específicos, pois, como sugere Maiakovski, difícil não é a morte, mas a vida e seus ofícios.

Do ponto de vista econômico, mesmo sem negar eventuais dificuldades, é muito difícil alguém demonstrar que o Brasil está quebrado ou em situação de descontrole como a direita, por conveniência, procura alardear. E não se trata de ufanismo e sim da análise objetiva dos dados: grandes programas de infraestrutura (casas, portos, aeroportos, transposição, hidrelétricas, etc.); saldo na balança comercial; reserva internacional de 370 bilhões de dólares (1,48 trilhões de reais); taxa de desemprego entre as menores do mundo, embora o ideal fosse desemprego zero; inflação sobre controle e um razoável colchão social. Pode até balançar, jamais cair.

Como todos sabem, sob o aspecto moral, é precisamente onde menos a direita teria condições de atacar o governo Dilma, tanto porque a corrupção faz parte da ética da sociedade capitalista, quanto pelo fato de que os principais quadros da direita – os que lideram o movimento golpista – estarem envolvidos em vários escândalos de corrupção, alguns até mesmo já denunciados na espetaculosa “operação lava jato”.

Mas é nesse terreno onde eles fazem mais alarido. Baseiam-se na certeza de que ninguém lhes cobrará coerência, na medida em que essa prática sempre lhes foi familiar, como evidencia o escândalo da compra de votos para aprovar a reeleição de FHC; as conhecidas privatarias, que entregou ao grande capital estrangeiro empresas públicas rentáveis a preço vil e ampliou a fortuna dos de sempre; e o socorro bilionário, com dinheiro público, que FHC assegurou aos banqueiros no fraudulento PROER.

O PT se intimida diante desses ataques pela confusão que sempre fez sobre o conceito de ética. Ao reduzir sua plataforma a questão moral, perdeu a dimensão do caráter transitório desse conceito e ficou prisioneiro de sua própria armadilha. Se sente ferido, portanto, naquilo que alardeava como seu maior patrimônio, a “ética na política”.

Ética é um conjunto de normas e comportamentos, com conteúdo de classe, que uma determinada sociedade sustenta num determinado período histórico. Não é sinônimo de bem ou de mal. Expressa os valores de seu tempo.

Assim, na sociedade escravocrata, fazia parte de sua ética alguém escravizar outra pessoa podendo dispor inclusive de sua vida; na sociedade feudal era “ético” o senhor feudal se apropriar de parte da produção dos servos e reivindicar a 1ª noite de todas as donzelas que se casassem nos domínios de seu feudo; e a ética da sociedade capitalista é a expropriação da riqueza através da mais valia, das privatizações e da corrupção, que em alguns países, como USA, já é legalizada através do lobby institucionalizado.

Todo o debate em curso é de natureza política, por isso devemos nos concentrar na denúncia do golpe e da pauta reacionária da direita, um espectro assombroso que ronda as nossas vidas ameaçando todas as conquistas até aqui obtidas. Mesmo os argumentos técnicos que aqui elenco tem objetivo muito mais didático do que de convencimento ou mesmo para chamar à racionalidade quem jamais se orientou por esse critério. Devemos combater o golpe para impedir retrocessos democráticos e continuar ampliando as conquistas econômicas e sociais para o povo. Esse é o debate.

O que move a direita é o velho golpismo, que sempre esteve presente como recurso quando o povo, reiteradamente, como ocorre agora, lhes nega o posto pelo voto. Na ausência de votos recorre ao golpe. Quer tomar de assalto o governo para aplicar a sua pauta de arrochos, de desmonte e de submissão do país ao império americano, como já fez quando governou (1995-2002) e acaba de anunciar em seminário recentemente realizado. A direita nunca teve respeito pelas liberdades democráticas. Usa como mero instrumento de retórica, o qual abandona de pronto sempre que não consegue viabilizar seus objetivos por esses meios. Nem sempre obteve sucesso.

Foi assim na época de Getúlio Vargas, cujo heroico suicídio adiou o desfecho golpista; foi assim em 64 quando depuseram Jango com apoio da CIA e da 4ª frota americana estacionada ao largo da costa brasileira. Tentaram com Lula e agora se voltam contra a presidenta Dilma. Por enquanto não encontram eco no povo, que assiste, a distância, a sanha golpista de uma direita cuja plataforma reacionária, antinacional, entreguista e contra o povo, a cada dia fica mais evidente.

O debate, reitero, é de natureza política, de classes antagônicas, movido por projetos distintos para o país. Não percamos tempo com numerologia ou fundamentações jurídicas que diariamente são afrontadas. Concentremo-nos na denúncia golpista e no risco da passividade diante da agressividade da direita, recorrendo ao célebre poema de Bertold Brecht no qual ele denunciava a passividade das forças progressistas e populares diante da escalada nazista de Adolf Hitler, na Alemanha.

Os cartazes dos “manifestantes” da direita propondo a morte da presidenta; fazendo apelo, em inglês, por intervenção americana; e destilando ódio e preconceito contra as regiões mais pobres, não deixa dúvidas quanto ao caráter reacionário e de falta de patriotismo dessa horda de celerados.

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