No Brasil, rechaçamos a ocupação da Palestina e da diplomacia

O Brasil voltou a tomar uma posição clara na questão palestina: rechaça a nomeação de Dani Dayan, ex-líder de uma espécie de super-prefeitura das colônias ilegais israelenses na Palestina, como embaixador de Israel para o Brasil. A liderança sionista reage à pressão internacional cada vez mais contundente contra a ocupação da Palestina com a sua reafirmação na política global.

O premiê Benjamin Netanyahu avança na indicação de nomes controversos para as representações diplomáticas em diversos países e instâncias, mas movimentos brasileiros uniram-se num manifesto que denuncia o papel de Dayan e exige a rejeição do seu nome.

A presidenta Dilma Rousseff também enviou uma mensagem para expressar sua contrariedade com a nomeação de Dani Dayan, que liderou o Conselho Yesha de colônias e que ainda reside em uma, Ma'ale Shomron, no norte da Cisjordânia palestina. Além disso, o anúncio da sua nomeação ainda ficaria pendente de um agrément, ou seja, um protocolo diplomático de cortesias em que o país para onde o diplomata é encaminhado pode avaliar a nomeação e aceitá-la ou não.

Quando anunciou o nome de Dayan, Netanyahu afirmou que “a América Latina é um dos alvos centrais de Israel em nossos esforços para desenvolver novos mercados, que contribuirão com o nosso crescimento econômico.” O premiê avança na tentativa de contrariar a firme tendência na região de apoio à causa palestina contra a violência da ocupação, com a crescente atuação de movimentos de solidariedade e o reconhecimento do Estado da Palestina pela quase totalidade dos países latino-americanos.

A rejeição de uma nomeação é possível, mas rara. O Brasil faz uso dessa prerrogativa e transmite um posicionamento claramente político de rechaço à ocupação da palestina, como já fazia em declarações, apoio às iniciativas de paz com base na solução de dois Estados e promoção do reconhecimento do Estado da Palestina, além das cláusulas no acordo comercial entre Israel e o Mercosul em que as colônias são reconhecidas como ilegais e por isso excluídas. O Mercosul, aliás, também tem um acordo comercial com a Palestina.

No manifesto assinado por diversos movimentos sociais, inclusive o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), os signatários expõem o histórico de Dayan não apenas como promotor das colônias, mas da ocupação como um todo, com um regime militar opressivo assente nas mais brutais violações dos direitos humanos dos palestinos.

As relações de Israel com diversos países do mundo – e até mesmo com seu aliado e patrocinador, os EUA – ficam expostas aos constrangimentos trazidos pela ocupação crescentemente rechaçada. O ciclo brutal da violência nos territórios ocupados, seja por parte dos soldados, dos colonos israelenses e dos confrontos entre palestinos e os representantes da ocupação, tem evidenciado a insustentabilidade do status quo e a necessidade de mudança no inócuo "processo de paz", com a possibilidade de envolvimento do Brasil na mediação. Afinal, mais de 20 anos de desempenho deste papel pelos Estados Unidos já demonstraram que a atuação deste que é, em realidade, uma parte no conflito, apenas enraíza a ocupação.

Além do manifesto dos movimentos sociais, um grupo de 70 parlamentares também entregou ao atual embaixador israelense Reda Mansour um pedido para reconsideração do nome. O grupo inclui as deputadas federais do PCdoB Jandira Feghali e Jô Morais (presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara), que considerou a atitude do premiê israelense uma provocação, de acordo com o portal do partido. Os parlamentares demandam a nomeação de um diplomata que resida em território israelense reconhecido internacionalmente, e não nos territórios palestinos ilegalmente ocupados.

Atualmente, existem mais de 120 colônias ilegais israelenses – assim reconhecidas por diversas organizações internacionais, resoluções da ONU, da União Europeia e rechaçadas até mesmo pelos Estados Unidos. Nelas residem mais de 500 mil israelenses, em terras expropriadas dos palestinos por vários mecanismos de regulação arbitrária impostos pelo regime da ocupação israelense.

O embaixador de Israel no Brasil será sempre um representante do sionismo que ocupou a Palestina e segue impondo aos palestinos um regime de segregação. Entretanto, a nomeação de um colono de posições favoráveis à ocupação é sem dúvida uma afronta ao trajeto brasileiro, intensificado nos últimos anos, de apoio resoluto ao direito do povo palestino a um Estado livre e soberano. Os movimentos sociais fortalecem-se nesta demanda e reafirmam a solidariedade aos palestinos na rejeição determinada da ocupação. ​

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