A escolha certa contra as chantagens

A Grécia, esmagada pela "austeridade" imposta pela União Europeia através de seus emissários financeiros colocados nos altos postos governamentais daquele país (e de outros, igualmente subalternos à política social-democrata da UE), elegeu no início de 2015 um Partido de esquerda, Siriza, para abrir caminho a uma alternativa que devolvesse a dignidade nacional e a sua riqueza construída pelo povo para desenvolver a nação democraticamente.

O Primeiro-ministro Alexis Tsipras recorreu a uma aliança com um partido de direita -ANEL- por não ter podido contar com uma maioria de deputados de esquerda, e entrou em contato com o Eurogrupo para debater a questão da dívida face à situação de miséria decorrente da chamada "austeridade". Foi tratado com sobranceria pelos representantes do capital europeu e norte-americano que lidam com a palavra "democracia" com a mesma leviandade com que aplicam "austeridade" às camadas mais pobres da população.

O mundo acompanhou com surpresa e indignação a falta de respeito do grupo de técnicos financeiros, pelo jovem estadista eleito pelo povo grego para representar os seus interesses. Admirou a paciência e serenidade com que Tsipras tentou traduzir em inglês o significado da palavra de origem grega "democracia" e o mandato que o seu povo lhe dera para discutir as origens da pobreza que se abatera sobre o povo trabalhador desde que os governos neo-capitalistas se prestaram a aplicar as receitas da UE. Chegaram a um impasse e Tsipras foi levado pelos deputados que o apoiaram, sociais-democratas e de direita, a aceitar um diálogo longo com os petulantes burocratas do capital.

Pediu que o povo manifestasse pela segunda vez a sua vontade de "afirmar o ideal democrático e obter a concordância da Zona Euro". Obteve este apoio de mais de 60% dos eleitores e partiu para uma nova "batalha de Pirro". Encontrou o mesmo muro de antes onde o humanismo, que é a base dos temas sociais, foi substituído pelas pedras do Euro para serem acumuladas nos bancos privados. E o tema ficou subordinado aos donos do dinheiro que são técnicos em chantagem política.

Por um lado a Comissão de Auditoria e Verdade sobre a Dívida Grega, criada no Parlamento grego demonstrou com dados desde a década de 1980 que o país havia sido delapidado pelos juros exorbitantes pagos por empréstimos do Banco Europeu numa manobra que beneficiava os bancos privados com o que recebia do Estado. Simplificando: os mais pobres (cidadãos e micro empresas) perdem empregos, têm redução nos salários e aumento nos impostos, criando um capital que o Estado entrega aos bancos e seus comparsas que desfrutam de crescentes fortunas milionárias. Por outro lado, esta realidade (que existe igualzinha em Portugal e demais sociedades empobrecidas), não comoveu os burocratas do Eurogrupo nem os novos apoiantes sociais-democratas do Parlamento Grego, empurrando Tsipras para ceder em ideais para receber em empréstimos.

Sem apoio, Tsipras assinou o texto contrário aos mandatos populares e à sua consciência e pediu demissão para concorrer em novas eleições.

“Não atingimos o que prometemos ao povo grego mas salvamos o país"…"demos uma mensagem à Europa"…"temos de minimizar as consequências negativas", disse o ex-Primeiro-ministro grego ao demitir-se do cargo e candidatar-se às novas eleições. Pode-se pensar que é uma atitude ingénua, moralizante, idealista, considerando-se como realidade o ambiente de chantagem e prepotência da política dominante na Europa e no Mundo.

Mas os povos começam a defender o direito a conservarem a boa fé, portanto a ingenuidade, a moral que traduz a ética, os ideais por mais utópicos que pareçam dentro do sistema capitalista que domina a humanidade, mais coerentes com a sensibilidade do ser humano. Tsipras confia no surgimento de uma consciência mobilizadora dos gregos, mas também dos demais povos europeus, para elegerem governos capazes de defender os direitos humanos e rejeitarem o poder dos que acumularam riquezas para chantagearem os pobres.

A expectativa é grande em todos os momentos eleitorais que virão. Os movimentos e partidos de esquerda precisam, tal como os cidadãos eleitores, defenderem os direitos de independência e dignidade das nações e programas de desenvolvimento das suas forças produtivas sem os limites criados pelo sistema capitalista e os programas de enriquecimento ilícito apregoados pela Troika.

Deixemos de viver como atores de um teatro feito por e para ricos. Pensemos com a cabeça de trabalhadores e cidadãos que somos, livres dos condicionamentos impostos por governantes e estruturas de poder que nos roubaram e abandonaram para usufruir de maneira egoísta e criminosa da riqueza social. Só a força popular poderá salvar a Grécia, assim como Portugal e outros países.

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