Gama pela história

Na tarde de ontem, 24 de agosto, aconteceram vários eventos na capital, da Câmara Municipal ao Largo do Arouche, terminando no cemitério da Consolação, em homenagem a Luiz Gama, patrono da abolição. A data marca os 133 anos da morte desse baiano ilustre, cuja trajetória heroica começou aos 10 anos de idade, quando foi vendido como escravo pelo próprio pai.

Longe do cárcere de onde fugiu, Gama construiu uma sólida carreira, de forma autodidata, atuando como jornalista, poeta e advogado. Foi assim que libertou mais de 500 escravizados. Orador nato, ele se valia de uma lei, de 7 de novembro de 1831, que, apesar de não ter cumprimento efetivo, já então proibia o tráfico negreiro no Brasil.

Provavelmente, ele ficaria feliz se soubesse que há, nos dias atuais, toda uma revisão histórica da tragédia da escravidão por aqui, paralelamente ao interesse governamental em implantar políticas públicas voltadas para a camada da população que nunca se viu assistida social e economicamente, caso dos negros e indígenas, bem como em incluir a história da África e dos Afrodescendentes no currículo escolar em todos os níveis.

O acesso ao emprego e ao ensino superior ofertados pelas políticas de ação afirmativa dos governos federal e municipal, entre outros, ainda enfrentam muita gritaria. Mas é fato que o sistema de cotas traz resultados positivos para todos: melhora a distribuição de renda, aumenta o tempo de estudo da população carente, gera diversidade nos bancos das universidades e nas repartições públicas, estimulando a tolerância e a convivência social. Coisas simples que a forma como se deu a abolição da escravatura no Brasil impediu que viessem à tona naturalmente.

Por isso, relembrar um dos ícones negros da escrita, da oratória e da política, cuja morte paralisou a cidade de São Paulo, quando seu caixão saiu do Brás e foi até a Consolação, carregado de mãos em mãos por uma multidão de pessoas, numa comoção jamais vista nesta cidade, é no mínimo um reencontro com a nossa verdadeira história.

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