O Papa é pop

Venho de formação cristã, católica, apostólica, romana. Cedo levado por minha mãe, mulher de fé ardorosa, mas que não perdia a oportunidade de visitar uns “centros” de candomblé, me envolvi e terminei, mesmo ainda adolescente, dando aulas de catecismos na catedral de Tejipio (bairro periférico de Recife-PE).

Rompi com a santa madre igreja, por profundas divergências teóricas, teológicas e ideológicas. Entretanto jamais brinquei ou briguei nem mesmo duvidei da fé de ninguém. Sentimentos íntimo, pessoal e individual que me causa respeito, mesmo que discordante.

Um símbolo da fé era padre Epidio, homem de gestos firmes e voz serena, que chamava atenção sem humilhar, ensinava sem pressionar. Se houver céu e lá for a morada dos homens justos lá está o velho e querido padre.

O materialismo dialético me afastou da igreja mas não foi o decisivo. O fundamental para a minha decisão, foi quando lá tomei conhecimento, em primeira mão, da miséria humana. Alí mesmo ao lado da sacristia quando ouvi as aberrações que as beatas falavam, em conversa sussurrada e estranha.

O tempo passou e fiz contato com outras manifestações desta miséria em outras frentes e vi que não era um privilégio das beatas do meu bairro.

Após anos nunca imaginei que iria escrever um artigo de elogios a um Papa. E muito menos a um Papa argentino que ainda por cima gosta de futebol, torce pelo San Lorenzo e ainda acha que o Maradona é melhor que Pelé.

Pois é a minha simpatia pelo Papa Francisco se baseia, não só no seu inegável carisma, que pessoalmente conferi quando da sua presença no Brasil, em especial no Rio de Janeiro. Sua simpatia é inquestionável, indo muito além da natural impressão que a função emprestou a todos os que lá estiveram.

O que mais me agrada são os discursos, as suas palestras, que até o momento guardaram relação com o que acredito ser importante e fundamental para o enfrentamento das mazelas que a humanidade enfrenta. Suas críticas contundentes incomodam os poderosos do mundo que logo irão pedir sua cabeça, na medida em que as suas ideias e ações se aproximem da esquerda mundial, como vem fazendo. Os ortodoxos revolucionários evidentemente irão também se incomodar com o que escrevo, mas a realidade é essa.

O Francisco vem sendo, em minha modesta opinião, uma grata surpresa e evidentemente a esquerda mundial precisa aproveitar melhor e sem utilitarismo, este momento “papal”, tornando-o um aliado efetivo das nossas lutas e bandeiras. É óbvio que não será fácil e nem tampouco o Papa poderá dar margem as manipulações ao exemplo do que ocorreu na Bolívia. Mas acho possível, sermos mais efetivos e menos preconceituoso com as atuações e principalmente discursos do religioso.

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