A Grécia e a faceta espúria do capitalismo

O capitalismo a cada dia revela sua face devastadora, contraditória e concentradora de renda. Também por isso, desde o seu surgimento, expõe a humanidade a crises civilizacionais.

Sua lógica que não é racional – excetuando-se para uma pequena casta – é um empecilho ao bem-estar e ao progresso equilibrado das sociedades, particularmente às trabalhadoras e aos trabalhadores.

A anarquia da produção e a apropriação de seu valor por uma parte parasitária, fazem sistema uma fonte de instabilidades e de agressões com múltiplas dimensões.

A sua permanente tendência de acirrar as disputas por mais mercados e controles já provocou conflitos mundiais que assassinaram centenas de milhares de homens e mulheres.

Hoje, sob o predomínio da ultrafinanceirização global, torna-se mais agressivo e provoca, inclusive, contradições no seio do seu próprio centro dirigente. Foi desse estágio monopolista que foram constituídos alguns blocos econômicos. Uma concentração que visa elevar as suas condições concorrenciais e dar uma maior sobrevida ao próprio sistema.

Um deles, a União Europeia, constituiu-se em 1992 e hoje conta com 28 Estados membros. É uma configuração que “juntou” países com assimétricos níveis de desenvolvimento.

Os periféricos de lá foram enquadrados nesse modelo que sequestra suas soberanias, inviabiliza suas independências e aniquila suas capacidades de desenvolver estratégias próprias enquanto Estados-nações. A Grécia – um berço da sabedoria humana – é um exemplo típico dessa agressão.

As consequências desses arranjos contemporâneos do capitalismo tornam-se mais nítidas com o advento de sua crise em 2008. Uma nova irrupção que abalou seus pilares econômicos. Para evitar a debacle, o capital financeiro saqueou trilhões de dólares dos Estados nacionais. Apesar disso, a perspectiva da recuperação da Grécia é imprevisível.

Desta vez o epicentro da crise se deu a partir das economias centrais, mas estas desde então vêm impondo medidas que transferem o ônus para os países em desenvolvimento e para nações economicamente fragilizadas. O povo e a classe trabalhadora têm sido as maiores vítimas dessa situação.

Nesse quadro, a Alemanha reforça sua posição e impõe aos satélites periféricos da região pesadas exigências econômicas e sociais. A Grécia é uma de suas maiores vítimas.

Sob a chantagem da Troica – Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu – em conluio com seus representantes locais, o povo grego é submetido a draconianos “ajustes fiscais” e a massacrantes pacotes que aniquilam direitos trabalhistas e sociais.

O desastre dessa política comprova-se pelos resultados naquele país. Em 2008, a pobreza atingia menos de 20%, hoje está em 23%. O desemprego, de 8%, atingiu 25,6% e a dívida pública passou de 20% para os atuais 177% do PIB.

Em 5 de julho, a grande maioria do povo disse NÃO a tantos e infrutíferos sacrifícios. A classe trabalhadora, sob a liderança da PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores) não sai das ruas e nem das lutas contra essa barbárie social patrocinada pelo consórcio financista europeu.

Os números de sua economia, em especial de sua dívida pública – de questionável legitimidade – atingiu um patamar que a torna impagável. Até mesmo o FMI assim considera.

Mesmo assim, a radicalidade e a intransigência da Troica se mantêm. Essa postura não se dá meramente pelos compromissos econômicos da Grécia. A situação evoluiu para uma questão política de maior envergadura. Eles temem que a resistência política grega tenha um impacto multiplicador e encoraje outras nações a também se rebelarem contra as suas imposições.

O povo grego com sua histórica sabedoria vem acumulando forças e saberá encontrar os caminhos que lhe proporcionará a retomada de sua soberania, o protagonismo político dos trabalhadores e os seus direitos sociais.

A dimensão da crise capitalista mundial e seus reflexos sobre as nações têm intensificado também o debate das ideias.

Esse contexto provocou uma grande revisitação às obras de quem mais investigou e melhor identificou os limites desse sistema. "O Capital" de Karl Marx bateu recordes de novas vendas na Europa.

Recentemente, em uma pesquisa sobre a relação do capitalismo e a concentração da renda no mundo, o economista francês Thomas Piketty apontou em sua obra, “O Capital no século 21”, algumas medidas que visam minimizar a crescente desigualdade provocada por esse modo de produção.

Mesmo com seus limites, é mais uma conclusão que comprova que o capitalismo é um sistema político e economicamente esgotado.

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