Sofismas

“Sofisma é um argumento falso ou raciocínio viciado, usado intencionalmente para induzir o outro em erro. Um sofisma é formal se as premissas que o sustentam são válidas e se sua falsidade derivar do mau uso das regras de inferência lógica”.

Já o termo “falácia” deriva do verbo latino fallere, que significa enganar. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. Na lógica e na retórica uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso.

Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia. As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismos e as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas.

Na Capoeira há no momento uma polêmica artificialmente constituída em torno de um sofisma: “Esportivização da Capoeira”. Este neologismo artificial criado não se sabe por quem e nem se quem o escreveu sabe o que disse, apareceu em um “panfleto” divulgado pela Câmara de Vereadores de Salvador, assinado pela Fecba (Federação Baiana de Capoeira) e por uma frente parlamentar de vereadores que se diz em defesa da Capoeira. A baiana evidentemente.
Ao observar atentamente percebe-se que o equívoco não foi produzido por ingenuidade mas por uma tentativa de apequenar um debate que envolve a encruzilhada em que se encontra a capoeira brasileira, nacional e atávica!

Sendo a Capoeira um patrimônio nacional e do ponto de vista imaterial até mundial como é o caso da Roda de Capoeira, fica no mínimo estranho que a Câmara de Vereadores de um município se arvore no direito de defender a Capoeira. Algo como o “rabo balançar o cachorro”. A Capoeira surgiu simultaneamente em vários locais, as pesquisas dão conta de Recife, São Luiz e Pará, mais ou menos no mesmo período do Brasil colônia no século inicial de escravidão ocorrida no Brasil. Só após este período é que surge informações e dados da Capoeira na cidade do Rio de Janeiro e só após isso é que se encontra vestígios da Capoeira no Recôncavo baiano, uns 100 anos depois. É evidente que a Bahia e Salvador por várias circunstâncias e características valorizou sobre maneira a difusão da prática da Capoeira em especial nas décadas de 40 e 50 do século passado, principalmente quando a envolveu através de uma política de estado, lá na Bahia, especialmente utilizando-a na indústria do turismo. E nenhum outro estado ou outra cidade utilizou tão fortemente a Capoeira e seus instrumentos como parte do folclore turístico estatal como a Bahia dos ACM´s.

Mas o escopo deste artigo é sobre a falácia citada no pequeno folder que se diz contra a “esportivização”. Ora a Capoeira é esporte desde que deixou de ser crime, quando saiu do código penal, no governo de Getúlio Vargas, passou a ser considerada oficialmente, esporte de criação nacional e assim foi ratificada, pelo conjunto das leis que se sucederam. O Estatuto da Igualdade Racial, fruto da lei 12.288/10 ratificou quando na Seção IV Do Esporte & Lazer, diz, em seu artigo 22, textualmente: “A Capoeira é reconhecida como Desporto de Criação Nacional nos termos do art. 217 da Constituição Federal”.

Portanto este termo é um sofisma ou uma falácia para enganar e iludir a comunidade que atenta não sucumbirá diante de argumentos tão frágeis e desprovidos de conteúdo teórico, político e intelectual. Nos parece que tal argumento tem cunho excludente na medida em que deixa subentendido que só um tipo, só um estilo de Capoeira pode ser praticado. Esta é a tentativa por trás do neologismo citado. Os que assim agem procuram agora oitenta anos depois derrotar, jogar no lixo, o legado fantástico, construído pelo Mestre Bimba e seu discípulo que tornou a Capoeira uma modalidade mundialmente conhecida, respeitada e temida no mundo das artes marciais. A Capoeira não é só também esporte. Ela é principalmente esporte, luta, arte marcial. Foi assim que ela nasceu e foi assim que se desenvolveu. Mas como os autores do Estatuto da Igualdade Racial, tinham mais visão e respeito do que alguns, fizeram questão de registrar nos parágrafos do artigo acima citado que:

§ 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional.

§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos.
Vamos a luta e vamos a polêmica.

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