O que disse aos professores mineiros

Debater com segmentos do Movimento Sindical é sempre um exercício da dialética e da militância na luta social, algo que faz falta hoje na esquerda, mal-acostumada à exclusiva institucionalidade.

O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, liderado pelo vereador de Belo Horizonte, Gilson Reis, realizou no último sábado (4) o seminário da sua diretoria, ocasião em que me convidou a fazer conferência sobre a conjuntura.

Uma palestra para professores, o conferencista não poderia ignorar o papel que desempenha essa categoria profissional na construção da Pátria Educadora, proclamada pela presidenta Dilma Rousseff em seu discurso de posse do segundo mandato. Por óbvio, para o desempenho de tal papel, é imprescindível que os professores sejam valorizados e qualificados e reúnam condições para preparar as crianças, adolescentes e jovens ao exercício da vida profissional, contribuindo também na formação da sua consciência como cidadãos.

Observei satisfeito o interesse dos professores mineiros na abordagem das conjunturas internacional e nacional.

A situação internacional afigura-se em essência tensa e perigosa, caracterizada pela ofensiva do imperialismo estadunidense e seus aliados para assegurar e reforçar posições hegemônicas, cada vez mais em cheque pela existência de novos polos de poder econômico e político. Esta ofensiva realiza-se por meio de uma política intervencionista, militarista e belicista, que põe em risco a paz mundial, a segurança das nações e os direitos dos povos.

A situação da Grécia, fartamente comentada, é expressão da crise sistêmica do capitalismo e das políticas neoliberais e conservadoras da União Europeia, comandada pela Alemanha, políticas que são ruinosas para a soberania nacional e os direitos dos trabalhadores.

Tema saliente na conjuntura internacional é o conflito na Ucrânia, que se insere no quadro dos intentos dos Estados Unidos e da União Europeia para isolar, cercar e ameaçar a Rússia. Igualmente, merecem destaque os conflitos no Oriente Médio, onde essas potências apoiam o sionismo e monarquias árabes reacionárias para esmagar o povo palestino, derrotar a Síria e o Irã e controlar o Iraque.

Na América Latina, salientei, continua em curso o ciclo político democrático e progressista iniciado em 1998 com a primeira eleição do comandante da revolução bolivariana, Hugo Chavez. Verificam-se importantes conquistas em mais de uma dezena de países que optaram pela eleição de presidentes progressistas. Do ponto de vista geopolítico, a região tornou-se um importante polo, como demonstra a existência da Celac – Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos. Entre os fatos positivos da conjuntura internacional, há que assinalar o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos, como mais uma vitória do povo cubano e de sua liderança revolucionária.

O centro do debate com os professores mineiros foi a conjuntura nacional, que podemos caracterizar como instável e emergencial, repleta de ameaças à democracia, aos direitos dos trabalhadores e à soberania nacional.

Instalou-se no país, desde as últimas eleições presidenciais, em outubro do ano passado, uma intensa polarização política, na qual as forças conservadoras realizam brutal ofensiva para interromper o ciclo político inaugurado com a primeira eleição de Lula, em 2002, e que tem continuidade com a presidenta Dilma Rousseff.

Formou-se uma ampla e poderosa coalizão de forças de que fazem parte o PSDB e seus partidos satélites, setores do Judiciário e do Ministério Público, a maioria conservadora do Congresso Nacional, liderada por Eduardo Cunha e Renan Calheiros, e a mídia golpista, cujo objetivo é retornar ao poder custe o que custar, mesmo através do golpe. Faz parte dessa ofensiva a aplicação de uma agenda conservadora contra os direitos civis, a democracia, os direitos trabalhistas e a soberania nacional.

Esta conjunção de forças é a expressão dos interesses políticos e econômicos do imperialismo e das classes dominantes retrógradas brasileiras, nomeadamente a grande burguesia monopolista-financeira.

Entre os problemas da atual situação política brasileira, é necessário advertir para as fragilidades políticas e ideológicas do governo, das forças de esquerda e dos movimentos populares. Ao invés de enfrentar os problemas e apontar a perspectiva da resistência e luta por reformas estruturais democráticas, manifestam-se da parte desses sujeitos políticos tendências a ceder espaço ao inimigo e conciliar com forças que defendem posições antagônicas e estão em plena ofensiva para derrubar o governo. Além disso, aparecem importantes divisões, a esquerda fragmenta-se e cria-se um ambiente de dispersão.

Nesse quadro, é necessário tomar como ponto de partida da resistência a defesa do mandato da presidenta da República, como aspecto fundamental do resguardo da democracia, e a união de forças políticas e sociais – partidos, movimentos populares e personalidades – numa ampla frente de caráter democrático, patriótico e progressista, com uma plataforma mínima comum que considere como prioritárias as lutas pela democracia, a soberania nacional, os direitos dos trabalhadores e a realização das reformas.

É essencial que os partidos de esquerda se reforcem, superando debilidades políticas, ideológicas e orgânicas. Neste particular, foi edificante a conversa mantida à margem do debate com quadros comunistas sobre a necessidade de construir um partido de militantes, nítida identidade comunista e de classe, organicamente estruturado.

Também o movimento sindical está chamado a desempenhar papel importante nessa empreitada, livrando-se de entraves corporativistas e burocráticos. Nada é mais importante, no atual momento, para quem milita na esquerda do que construir a frente ampla progressista, democrática e patriótica.

Finalmente, pedi aos professores mineiros que ajudem a salvar o país de um certo ex-governador aventureiro que eles já conhecem bem, pelo mal que causou à educação e a todo o serviço público no seu Estado.

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